quinta-feira, 24 de março de 2011

A Bíblia e o Homossexualismo

A BíA Bíblia e o Homossexualismoblia e o Homossexualismo
















Caros blogueiros
Consultado por um amiga sobre a base bíblica de a homosexualidade ser pecado, resolvi postar esta matéria do João Santolin, que é um cristão sério.
Segue a matéria:
A Bíblia e o Homossexualismo
O tema homossexualidade nunca foi tão explorado pela mídia como atualmente. Na televisão, os programas de auditório recebem militantes gays para entrevistas e debates sobre suas conquistas e promoção de seus eventos. Novelas e filmes também exaltam a homossexualidade. Rádios, jornais e revistas abriram-se para a questão. O assunto está sempre na ordem do dia.

Os acalorados debates atravessam muitas perspectivas quando o assunto é a homossexualidade: psicológica, sociológica, ética e, a mais polêmica, a religiosa. As posturas são as mais diversas. A Igreja Evangélica, entretanto, mesmo não sendo favorável à prática homossexual, acredita que os homossexuais devem ser acolhidos, receber compaixão e ouvir a palavra de Deus. As Sagradas Escrituras prometem transformação para todo e qualquer pecador que se arrependa dos seus pecados e creia em Jesus Cristo.


POSIÇÃO BÍBLICO-TEOLÓGICA DA IGREJA EVANGÉLICA
A Igreja Evangélica tem uma postura bem firme quanto à questão da homossexualidade. Apesar de lançar mão de argumentos psicológicos, científicos, sociológicos e éticos, é da Bíblia Sagrada que retira o substrato para nortear sua compreensão teológica e suas ações práticas.

Tanto no Antigo como no Novo Testamento, a Bíblia faz menção aos atos homossexuais. A primeira referência ao homossexualismo está no livro de Gênesis, quando os habitantes das cidades Sodoma e Gomorra tentaram violentar sexualmente dois anjos com aparência humana. Assim a Bíblia menciona, em Gênesis 19, a exigência dos homens da cidade que tentavam invadir a casa de Ló, onde os anjos se hospedaram:
“Onde estão os homens que, à noitinha, entraram em tua casa? Traze-os fora a nós para que abusemos deles.”

Analisando a história de Sodoma e Gomorra, o escritor Joe Dallas faz a seguinte afirmação:

“Houve uma tentativa de estupro homossexual, e os sodomitas com certeza eram culpados de outros pecados além do homossexualismo. Mas, tendo em vista o número de homens dispostos a participar do estupro, e as muitas outras referências - tanto bíblicas como extra-bíblicas - aos pecados sexuais de Sodoma, é provável que o homossexualismo era amplamente praticado entre os sodomitas. Também é provável que o pecado pelo qual eles são chamados foi um dos muitos motivos porque o juízo final caiu sobre eles.”

Outra passagem do Antigo Testamento que refere-se à prática homossexual, encontra-se no capítulo 19 do livro de Juízes. Os homens da cidade de Gibeá também tentaram violentar sexualmente um homem que se hospedou na casa de um velho agricultor. A passagem relata o seguinte:

“eis que os homens daquela cidade, filhos de Belial, cercaram casa, batendo à porta; e falaram ao velho, senhor da casa, dizendo: Traze para fora o homem que entrou em tua casa, para que abusemos dele. O senhor da casa, saiu a ter com eles, e lhes disse: Não, irmãos meus, não façais semelhante mal; já que o homem está em minha casa, não façais tal loucura. (...) Porém aqueles homens não o quiseram ouvir...”

Para o pesquisador e escritor Júlio Severo não há nenhuma dúvida de que essa passagem da Bíblia também se refere à homossexualidade. Severo afirma que os judeus - por não terem eliminado de seu meio os costumes dos povos pagãos - acabaram sendo influenciados por eles e sofrendo graves conseqüências sociais e morais:

“O fato é que os costumes dos cananeus que habitavam no meio do povo de Benjamin acabaram minando toda sua resistência moral. O homossexualismo, que era comumente praticado nas religiões cananéias, foi aos poucos sendo introduzido na vida social do povo de Deus.
“Como conseqüência, as ruas de Gibeá deixaram de ser seguras. Nelas, agora, rondavam estupradores homossexuais. Foi por isso que o velho se dispôs a acolher os viajantes em casa. Ele quis protegê-los de um eventual abuso sexual.”

Segundo Júlio Severo, os habitantes da cidade de Gibeá colocaram-se ao lado dos seus cidadãos homossexuais e sofreram graves conseqüências. Ele considera a história de Gibeá um alerta para os cristãos dos dias de hoje pois, segundo afirma, esses também são suscetíveis de abrigar o pecado em suas comunidades:

“Para que toda influência homossexual fosse arrancada do meio do povo de Deus, o Senhor ordenou que os benjamitas fossem combatidos. Na guerra que se seguiu, morreram quarenta mil soldados de Israel e vinte e cinco mil de Benjamin, sem mencionar as vítimas civis, que foram em número muito maior.

“A tragédia moral de Gibeá é um alerta para a comunidade cristã de todos os tempos. Ela mostra que não só a sociedade secular, mas também os próprios crentes são suscetíveis de perder a aversão pelas opiniões e práticas sexuais erradas. O ex-povo de Deus de Gibeá foi destruído porque não amou a Palavra do Senhor, nem obedeceu a ela.”

Há, ainda, no antigo Testamento duas passagens muito claras a respeito do homossexualismo. São Levítico 18:22 2 Levítico 20:13 que dizem o seguinte, respectivamente:

“Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação” e “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”.

Analisando as declarações acima, os teólogos John Ankerberg e John Weldon chegaram à seguinte conclusão:

“todo o contexto de Levítico 18 e Levítico 20 é principalmente de moralidade, e não de adoração idólatra. Nesse caso, em Levítico 18.1-5 Deus informa aos israelitas que não devem imitar as práticas malignas dos cananeus, mas devem ser cuidadosos em obedecer às leis de Deus e seguir as Suas determinações. Deus está expulsando os cananeus, não por sua idolatria, mas por suas práticas sexuais abomináveis. Na realidade, o restante do capítulo descreve quase todas as práticas malignas como pecados sexuais: relações sexuais proibidas entre membros da família, relação sexual durante o ciclo menstrual de uma mulher, homossexualidade e depravações. O restante do capítulo consiste em advertências convincentes para não serem contaminados por tais práticas. Por isso, Deus ordena no versículo 24: ‘Com nenhuma destas coisas vos contaminareis.’”

No Novo Testamento a homossexualidade também é abordada de forma clara em três momentos: Rm 1, 1 Co 6.9 – 11 e 1 Tm 1.8 - 11. As três referências são feitas pelo apóstolo Paulo. As principais passagens que abordam a questão homossexual, no entanto, encontram-se nas cartas do apóstolo endereçadas às igrejas de Roma e da cidade de Corinto, na Grécia. Tanto em Roma como na Grécia antiga, o homossexualismo era uma prática comum. Era, ainda, considerado imagem ideal do erotismo e modelo de educação para os jovens.

Contudo, apesar da prática homossexual ser considerada normal em Roma, o homossexualismo passivo desonrava os romanos, que eram educados para serem ativos, serem senhores. A posição passiva era reservada para os escravos e para as mulheres, para os quais, aliás, era um dever. A História registra que dos quinze primeiros imperadores de Roma, só Cláudio era exclusivamente heterossexual. Mas foi o imperador Júlio César que ganhou a fama, só sendo tolerado pela posição que ocupava e por suas conquistas bélicas. Dele diz-se que “era homem de todas as mulheres e mulher de todos os homens”.

A palavra lésbica vem da ilha de Lesbos, na Grécia, onde vivia uma poetisa e sacerdotisa chamada Safo. Ela iniciava mulheres no homossexualismo (daí os adjetivos lésbica ou mulheres sáficas). As palavras sodomitas e efeminados usadas em 1 Co 6.9 têm significados distintos: sodomita vem do pecado de Sodoma e tornou-se sinônimo universal de homossexualismo ativo (quando o homossexual faz o papel de “marido” na relação com outro homem); e efeminado é quando o homossexual faz o papel de passivo (ou seja, o de “mulher” na relação sexual com outro homem) e, também, quando tem trejeitos femininos ou gosta de vestir-se com roupas de mulher (no caso de travestis).

Esse era exatamente o contexto em que o apóstolo Paulo vivia quando escreveu a primeira referência bíblica do Novo Testamento sobre o homossexualismo, dirigindo-se à igreja de Roma. Usando a autoridade que tinha de pregador da Palavra de Deus, ele não fez distinção entre homossexualismo ativo ou passivo. Afirmou, sim, que o homossexualismo contrariava os propósitos morais, sexuais, sociais e espirituais de Deus para homens e mulheres.

Depois de afirmar que os romanos haviam trocado a verdade de Deus pela mentira, ele declarou em Romanos 1.26 e 27:
“porque até as suas mulheres trocaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro.”

John Ankerberg e John Weldon analisam essa afirmação de Paulo ressaltando que, ao contrário da interpretação de alguns simpatizantes da causa homossexual, esses dois versículos são revelações claras de que o apóstolo referia-se à homossexualidade:
“Paulo está simplesmente condenando a homossexualidade em si. As definições dos dicionários para as palavras que Paulo usa - pathe aschemosune etc - claramente se referem à atividade sexual. (...) As descrições feitas pelo apóstolo Paulo são também dignas de nota. O livro de Romanos fala de homossexuais queimando-se em lascívia uns pelos outros. No inglês, a New American Standar Version diz: ‘queimados em seus desejos’; a NVI traduz: ‘estavam inflamados em lascívia’, e a Amplified diz: ‘estavam em chamas (queimados, consumidos) pela lascívia.’”

A outra menção à homossexualidade - considerada por muitos evangélicos a mais importante da Bíblia, por mostrar que homossexualismo é uma pecado como qualquer outro mas, principalmente, que homossexuais podem mudar - é encontrada na carta de Paulo dirigida à igreja de Corinto. Essa cidade pertencia à Grécia antiga onde, à semelhança de Roma, o homossexualismo era celebrado e também praticado por filósofos e poetas. Na adolescência, os rapazes gregos deixavam a casa de seus pais e se tornavam amantes de homens adultos. Corria que essas práticas sexuais faziam parte de um relacionamento afetivo e educacional em que os jovens eram ensinados a trilhar os caminhos da virilidade.

O apóstolo Paulo, porém, mesmo conhecendo muito bem a cultura da Grécia, faz uma leitura diferente do pensamento corrente na época, em 1 Coríntios 6.9 a 11:

“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.”

Comentando essa passagem bíblica, Bob Davies e Lori Rentzel (conselheiros de um ministério de ajuda a quem está deixando o homossexualismo nos EUA) reconhecem o mesmo teor de proibição das práticas homossexuais de muitos teólogos. Eles, porém, têm uma informação relevante àqueles que acham que a Bíblia só condena os homossexuais:

“há evidências bíblicas explícitas de que Deus pode transformar a vida de uma pessoa envolvida nesse comportamento. (...) Paulo conhecia antigos homossexuais na igreja de Corinto! Portanto, a mensagem de que o homossexualismo pode ser mudado não é nova; os homossexuais têm experimentado transformações desde que a Bíblia foi escrita.”


Autor deste artigo: por João Luiz Santolin (MOSES)
http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=815&menu=12&submenu=
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quarta-feira, 2 de março de 2011

Pastor & Igreja: uma relação (conjugal) em crise



 Caros
Tenho citado esta matéria em minhas aulas e posto-a para apreciação dos queridos(alunos e visitantes) que lêem o meu blog.
Na época em que foi escrita havia várias igrejas processando seus pastores(inclusive a minha), por conta de coisas reais ou não, mas que contrariam de maneira objetiva um princípio claro das Escrituras: I Co 6. 1-7
OUSA algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos?
Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?
Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?
Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?
Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?
Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis.
Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?
paz
Você a encontra no site http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/291/pastor-igreja-uma-relacao-conjugal-em-crise sem os meus comentários é claro.
Pastor & Igreja: uma relação (conjugal) em crise
Ricardo Agreste

A mútua desconfiança

Após minha palestra numa conferência para pastores e líderes, um homem de aproximadamente 50 anos pediu para que conversássemos a sós. Seu semblante estava visivelmente caído e seu olhar sem brilho algum. Ele era um pastor que, após doze anos de dedicação à sua comunidade local, havia sido comunicado pela liderança de que estaria dispensado para o próximo ano. A alegação era que ele já não estava correspondendo às expectativas da comunidade e que ela gostaria de respirar “novos ares”. Tomado por um sentimento de baixa auto-estima, envolvido pela desesperança e com o coração amargurado, aquele homem, olhando para o chão, me disse: “Sinto-me usado. Fui totalmente consumido e agora sou descartado”.

Conversas como esta sempre me trazem à lembrança alguns diálogos com amigos que participam da liderança em suas igrejas locais. Entre eles, parece ser crescente o número daqueles que relutam em confiar nas motivações de um pastor. Alguns foram testemunhas da história bem comum do jovem pastor que, diante da comunidade, jura amor eterno, mas diante de uma melhor oportunidade ministerial (ou profissional?), parte com descaso em nome do “senti que esta era a vontade de Deus”. Sentimento ainda pior encontro naqueles que, após se renderem à liderança daquele que demonstrava intimidade com Deus e consciência de sua vontade, descobrem que suas motivações eram obscuras e seu caráter, questionável. Cada um desses líderes locais, em outras palavras, também está dizendo: “Sinto-me usado. Fui totalmente consumido e agora sou descartado...”

Essa situação tem, silenciosa e gradativamente, instalado uma relação de mútua desconfiança entre pastores e igrejas. Para alguns, como sapos imersos na água que vai sendo aquecida, ela nem existe. No entanto, o número de vítimas vai se avolumando, tanto entre pastores como entre igrejas locais. Em nosso meio, cresce tanto o descrédito na figura do pastor — seja por situações de descaso no trato da igreja, seja por escândalos que se tornaram públicos — como o número de seminaristas e jovens pastores que caminham para a sua primeira experiência ministerial diante de uma comunidade cristã pensando em como ali viver sem deixar-se ferir mortalmente.
 

Creio que essa relação de mútua desconfiança tem origem numa crise de identidade em que tanto pastores como igrejas se vêem envolvidos na atualidade. Os pastores, cercados por uma sociedade secularizada, que não valoriza sua vocação e seu serviço, são interiormente pressionados a provarem seu valor por meio de cursos acadêmicos, cargos eclesiásticos, estabilidade financeira ou ministérios espetaculares. Por sua vez, as igrejas locais são alvos do assédio de uma pluralidade de metodologias pragmáticas mais preocupadas em fazer clientes ou franqueados do que em contribuir para que, por meio de um pensar teológico e missiológico, a comunidade venha a ser tão-somente aquilo que Deus quer que ela seja.



Afinal, o que somos?

Em meio a esse cenário, boa parte de nossos pastores, principalmente aqueles das igrejas reformadas e pentecostais históricas, estão envolvidos por uma cultura eclesiástica que os transforma em uma espécie de capelão hospitalar. A igreja se vê como um grande hospital e seus membros, conseqüentemente, como pacientes que ali estão para serem visitados, consolados e bajulados. Todos esperam que o pastor, com suas visitas diárias e suas mensagens semanais, amenize as dores geradas pelos problemas da vida e promova consolo e encorajamento. Assim, todo serviço é desempenhado pelo pastor, e seu desempenho é avaliado pelo nível de bem-estar comunitário.

Esse modelo tem conduzido muitos pastores a uma profunda frustração. Embora parte da vocação pastoral encontre seu exercício no consolo dos que sofrem e no acompanhamento daqueles que passam por crises, é um reducionismo antibíblico afirmarmos que isso seja sua totalidade. Além do mais, esse é um modelo que, por um lado, gera no pastor a desumana condição da busca de sua aceitação no grupo por meio do constante e incansável serviço aos seus membros. A relação torna-se condicional e unilateral. Por outro lado, gera na igreja uma dependência doentia de seu “capelão” com sua complacente presença, sua capacidade única de ler e compreender a Palavra, e sua suposta oração com poder diferenciado.

Nesse contexto, o pastor passa a se sentir duplamente pressionado: internamente, pela frustração em estar diante de uma igreja que, à parte de uma visão bíblica acerca de sua natureza, insiste em se enxergar como um grande hospital e exigir dele um trabalho de mera manutenção do bem-estar comunitário; externamente, pelas constantes comparações de seu ministério com as muitas histórias e estatísticas dos “pastores de sucesso” e suas metodologias infalíveis para o crescimento da igreja. Esses dois fatores, o interno e o externo, acabam por levar alguns pastores a se renderem a algum modelo pragmático por meio do qual, de passivos capelães, passam a ser arrojados empresários.

Assim, diferentemente da figura do capelão, aqui o pastor é o homem de visão, que, com carisma pessoal e grande habilidade, articula idéias e mobiliza pessoas em torno de seus sonhos. Estabelecem-se propósitos[1], elaboram-se estratégias, dividem-se tarefas, fixam-se prazos, tudo segundo o manual e em plena confiança no método. A igreja, gradativamente, torna-se uma pequena (ou grande?) empresa para prestação de serviços religiosos que, diante de seu público consumista, precisa constantemente inovar os programas e ampliar seu portfólio de serviços. Os crentes tornam-se clientes, e tudo é feito visando sua satisfação, incentivando-os a uma cultura utilitarista e uma espiritualidade imatura.

Embora a motivação possa até ser apontada como o desejo de um maior engajamento da igreja na missão de Deus na história, pastores e igrejas que se rendem a esse modelo geram dois tipos de anomalias. A primeira é a do pastor que, como o homem de visão[2], passa a enxergar sua comunidade local como a matéria-prima de sua própria realização pessoal. O objeto de seu pastoreio já não é a comunidade, mas sua própria visão. A segunda é a da comunidade local que, após construir caras estruturas para o exercício de sua suposta missão, passa a viver exclusivamente para a manutenção delas. Assim, o que era um meio torna-se o fim, e a missão comunitária passa a ser a manutenção das estruturas de poder.

Ambos os modelos, o do capelão e o do empresário, têm gerado doenças na vida do pastor, da igreja e, conseqüentemente, na relação entre os dois. Se no modelo capelão as maiores vítimas são os próprios pastores, no modelo empresário, em geral, são as igrejas. Por isso, o reencontro tanto do pastor com sua vocação bíblica, como da comunidade local com sua vocação histórica são elementos imprescindíveis na restauração desse relacionamento.



Quando lemos Efésios 4.11-13 encontramos:

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.

Diante da Palavra, somos levados a concluir que o propósito de Deus para os pastores e aqueles que se encontram diante de comunidades cristãs é capacitar os crentes para o ministério cristão e estimulá-los à maturidade da fé. Em nada isso se parece com qualquer tipo de relação subserviente ou opressora. Pelo contrário, a Palavra estabelece uma relação entre pastor e comunidade caracterizada pela capacitação, pelo crescimento e pela liberdade.

Diante disso, não existe melhor palavra para definir o trabalho pastoral dentro da perspectiva bíblica do que “mentoria[3]”. Mentores não geram dependência por meio da subserviência, nem mesmo intimidam por meio do exercício do poder. Mentores, com o relacionamento e o ensino, tornam-se facilitadores para que aqueles que lhes foram confiados descubram, diante de Deus, a vocação que lhes foi dada e tornem-se homens e mulheres maduros na fé, cada dia mais parecidos com a pessoa de Jesus.



O reencontro com a vocação e a humanidade

Diante de casais em crise, muitas vezes é necessário que primeiramente cada um dos cônjuges se avalie para que depois a restauração do relacionamento seja viável. Creio que o mesmo acontece hoje entre pastores e igrejas. Nossos pastores precisam, em meio a tantas pressões da sociedade em que vivemos, reencontrar a essência de sua vocação pastoral. Da mesma forma, as igrejas locais precisam se libertar das demandas das metodologias e da ditadura do “ser espetacular” para redescobrirem sua natureza singela como comunidade de discípulos em missão no mundo.

Uma vez consolidado o reencontro do pastor com sua vocação bíblica e da igreja local com sua vocação histórica, precisamos dar ainda mais um passo: humanizar essa relação. Por um lado, os pastores precisam ter uma visão mais realista de suas comunidades. Como diz Eugene Peterson, “a igreja é uma comunidade de pecadores, pastoreada pelo maior deles”. Muitas de nossas frustrações, como pastores, decorrem do fato de que esperamos da igreja mais do que o próprio Deus espera dela. A igreja, por sua própria mensagem de graça, atrai para si pessoas tremendamente complicadas e não-resolvidas, assim como eu e você. É a esse grupo complicado que Jesus envia seus pastores quando diz: “Pastoreie meus cordeiros”.

Por outro lado, as comunidades locais também precisam reconhecer que seus pastores são pessoas, com virtudes e limitações. Numa relação humana, não existe como relacionarmo-nos apenas com as virtudes de alguém. A pessoa é uma totalidade e, paradoxalmente, possui certas virtudes porque algumas limitações também estão presentes em sua vida. Assim, em alguns momentos aquelas se sobressairão, enquanto em outros estas virão à tona. Mas, numa comunidade em que existem o compromisso com o amor e a busca pela maturidade, sempre deve existir a possibilidade de se tratar o outro — inclusive o pastor —, em suas limitações, com acolhimento, apoio e encorajamento.



Ricardo Agreste da Silva, casado, três filhos, é pastor da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, em Campinas, SP. É coordenador da área de teologia pastoral no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo. É também um dos coordenadores do Projeto Timóteo, ministério voltado ao apoio e incentivo a jovens pastores.



Projeto Timóteo

O Projeto Timóteo teve início em março de 1998, quando 25 jovens pastores assumiram o compromisso de caminharem juntos ao longo de três anos. A cada seis meses se reuniriam para um retiro de dois a três dias, em que vitórias e frustrações seriam compartilhadas, risos e lágrimas seriam repartidos, laços de afinidade e amor seriam fortalecidos.

O grupo inicial caminha hoje para o oitavo ano de existência. Alguns de seus membros aceitaram o desafio de multiplicar a experiência e assim novos grupos surgiram. Atualmente, o Projeto Timóteo possui três grupos em funcionamento e dois em processo de formação, todos com o mesmo objetivo: incentivar amizades e apoiar ministérios.

Para obter mais informações, visite
 www.projetotimoteo.org.br



[1] Com certeza, pra quem conhece, uma referência a Igreja com Propósitos, livro lançado no Brasil com este nome do autor Rick Waren
[2] Leia-se Empreendedor, o Cara, etc
[3] Em fazendo sua crítica ao modelo empresarial, Ricardo Agreste, apresenta uma solução não bíblica e na verdade empresarial também. Mentoria nasce no coaching empresarial e não é encontrada na Bíblia e sim a palavra discipulado ou discípulo(aprendiz sob disciplina, Austin Sparks).

terça-feira, 1 de março de 2011

O PROBLEMA SINÓPTICO


Queridos
Estas postagens visam disponibilizarem aos meus alunos do Betel material complementar ao estudo do Novo Testamento. (esta publicação é do livro Intr. ao Estudo no N.T. de Broadus; Juerp)
O PROBLEMA SINÓPTICO
Os três primeiros Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) apresentaram uma área de incerteza nos estudos do Novo Testamento. Estes livros foram chamados os "Evangelhos Sinópticos", desde que o termo foi pela primeira vez usado por J.J. Griesbach, em sua edição do Novo Testamento grego, em 1774-1778. A palavra grega sunoráo significa "ver junto", e chama a atenção para o material comum a todos os três e indica que eles são melhor compreendidos quando estudados juntos. Mesmo uma leitura casual dos quatro primeiros livros do Novo Testamento mostrará que os três primeiros têm muita coisa em comum (representando uma tradução comum) e o quarto parece pertencer a outra tradição distinta.

O estudo das relações literárias dos Evangelhos é denominado Crítica Literária. Como se relaciona com os Evangelhos Sinópticos, ele é o estudo dos fenômenos de concordâncias e discordâncias e a mistura destes ele­mentos. Estas relações literárias provaram ser mais complicadas que pri­meiramente imaginadas. Até cerca da metade do século dezoito, a Igreja in­teressou-se por explicar as diferenças encontradas nos Evangelhos. Depois a ênfase foi mudada, numa tentativa de explicar-se as semelhanças. Estas concordâncias, além disso, não são necessariamente "identidades"; impor­tantes diferenças aparecem dentro de estruturas semelhantes. Para esclare­cer estas relações, é necessária uma reconstrução, tanto histórica quanto analítica, do processo inteiro, desde a época de sua origem até sua incorporação dentro dos livros do Novo Testamento. A análise das origens do material antes do primeiro documento escrito é denominada Crítica da Forma. A investigação das circunstâncias em que os atuais Evangelhos usaram um ou mais documentos escritos é denominada Crítica da Fonte, e o modo pelo qual os autores dos livros aceitos adaptaram as "fontes" para apresentarem seu argumento teológico é denominado Crítica da Redação.
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA SINÓPTICO

O problema Sinóptico entra em foco quando a seguinte estatística é observada: entre 94 e 95 por-cento do Evangelho de Marcos é reproduzido em Mateus e Lucas. Dos 661 versículos contidos em Marcos, todos, exceto cerca de 30, são encontrados nos outros dois Sinópticos. A substância de 606 versículos pode ser encontrada em Mateus (correspondendo a 500 por causa de diferente disposição do conteúdo). Lucas reproduz cerca de 320 versículos de Marcos, incluindo 24 que Mateus não usou. Isto significa que, dos 661 versículos contidos em Marcos, somente 30 não aparecem nos outros dois Sinópticos. B.F. Westcott (An Introduction to the Study of the Gospels — Uma Introdução ao Estudo dos Evangelhos — p. 191), em 1875, deu um quadro desta informação numa base percentual:
Peculiaridades        Coincidências
Marcos                                     7
                             93
Mateus                                   42                             58
Lucas                                     59                             41
João                                       92                               8
João está incluído para mostrar quão grande é a divergência de material entre ele e os Evangelhos Sinópticos. O quadro acima não significa que as coincidências estejam em ordem verbal exata, mas, sim, que as coincidências são tão estreitas, que tanto mostram uma relação quanto uma origem comum.
Ainda há outra observação a ser feita. O quadro acima expressa as relações ou coincidências entre os quatro Evangelhos, usando Marcos como a unidade básica. Isto significa que 93 por-cento de Marcos é encontrado ou em Mateus ou em Lucas, mas somente 58 por-cento de Mateus e 41 por-cento de Lucas é encontrado em Marcos (e apenas 8 por-cento de João é comum a Marcos). O quadro não expressa a relação entre os outros Evangelhos (Mateus e Lucas ou João e Lucas). Quando todo o material comum aos três Sinópticos é extraído, há cerca de 250 versículos que são partilhados por Mateus e Lucas e não são encontrados em Marcos. Isto deixa cerca de 300 versículos em Mateus (de 1.068) e 580 versículos em Lucas (de 1.151) que não estão em comum com Marcos ou um com o outro.

As concordâncias e coincidências são bem impressivas no Novo Testa­mento grego. Versículos idênticos nos três Evangelhos e idênticos nos dois Evangelhos são imediatamente evidentes. A concordância, em um grande número de casos, é encontrada no vocabulário e na ordem de palavras. Em outros exemplos, são usados sinônimos, e é observada a ordem invertida. Também observa-se que a ordem geral da narrativa de eventos é seguida. Quando um dos outros dois Evangelhos diverge da ordem de Marcos, o outro é fiel a Marcos. Mateus e Lucas dificilmente concordam juntos em contraposição a Marcos.
Este é o Problema Sinóptico. Ê tarefa do estudante do Novo Testamento tentar explicar as semelhanças e divergências nos três Evangelhos. Por que eles têm tantas coisas em comum, e como explicar as diferenças?
É difícil, para muitos, aceitar a idéia de que os escritores dos Evangelhos poderiam ter usado histórias tanto escritas quanto orais acerca da vida de Cristo. Sua concepção dos Evangelhos é que o Espírito Santo deu o material a cada um dos escritores de maneira mecânica; ou seja, os autores dos Evangelhos eram simplesmente penas nas mãos do Espírito Santo. Contudo, o prefácio do Evangelho de Lucas afirma muito claramente que ele havia investigado muito inteiramente o material a ser escrito. O texto do prefácio de Lucas (1:1-4) é:
"Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investigado tudo cuidadosa­mente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem, para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído."
Porque Lucas expressamente afirma que ele próprio havia verificado com "testemunhas oculares" e que outros já haviam empreendido a tarefa de escrever o Evangelho. Isto, portanto, indicaria que Lucas teve acesso a "fontes" tanto orais quanto escritas. Deve ser presumido, então, que os outros escritores dos Evangelhos também usaram "fontes" para sua obra. A tarefa de tentar-se determinar estas fontes é denominada Crítica da Fonte.
CRÍTICA DA FONTE

A Tradição Oral — Nos primeiros anos da igreja cristã, o evangelho foi transmitido e preservado oralmente. Como os primeiros discípulos esperavam para breve a volta do Senhor ressurrecto, eles não sentiram nenhuma necessidade de escrever uma narrativa do testemunho apostó­lico. Foi somente depois que os apóstolos e outras testemunhas começa­ram a morrer e ser mortos, que se sentiu ser necessário preservar, em forma de escrita, o teor do ministério do Senhor Jesus. Foi durante esse período que surgiu o que é denominado a Tradição Oral do evangelho.

A pregação e ensino dos apóstolos e outros líderes da igreja, lógica e naturalmente, dariam uma forma fixa às narrativas acerca da vida de Jesus. Essa "tradição fixa" explicaria a relação estreita dos Sinópticos. As diferenças são explicadas como sendo contribuições de pessoas indi­viduais, aumentando a informação mais geral, que pertencia à igreja como um todo. Então, também, o propósito de cada autor deve ser tido em mente, à medida que ele reuniu e colecionou seu material.
Há, contudo, demasiadas dificuldades, ao tentar-se explicar a natureza básica dos Sinópticos, no terreno em que o evangelho foi preservado, em detalhes, por memória, durante um longo período de tempo. O pro­blema é aumentado quando a "memorização" tinha que ser feita, à medida que o Evangelho se propagava tão rapidamente por todo o Império Romano e estava sendo traduzido para tantos idiomas diferentes. A supervisão para tal tarefa estonteia a mente. Um estudo maior, da Tradição Oral, será feito, com o subtítulo de Crítica da Forma.
Os pais primitivos da Igreja criam que os Evangelhos surgiram inde­pendentes um do outro. Pela época do quarto século, contudo, ficou reconhecido que os Sinópticos eram, de algum modo, interdependentes. Por causa do fato de Mateus encabeçar a lista no cânon, Agostinho pensou que fora escrito primeiro e que Marcos e Lucas estavam, de algum modo, relacionados com ele. Dizia que Marcos era uma forma resumida de Mateus, e que Lucas era dependente tanto de Mateus quanto de Marcos. Deve ser lembrado que este conceito surgiu porque Agostinho estava cônscio de que o Evangelho de Mateus era bem conhecido no segundo século e era sempre alistado em primeiro lugar, em toda lista dos livros do Novo Testamento.
A Teoria de Dois Documentos — O ponto de vista de Agostinho foi mantido até 1835 (com algumas variações menores), quando Karl Lach-mann provou a primazia de Marcos, simplesmente por razões lingüísticas. Algumas destas foram apresentadas anteriormente, mas talvez esclareces­se as questões relacioná-las mais uma vez:
1.   Mateus reproduz 90 por-cento do assunto de Marcos, em lingua­gem grandemente idêntica à de Marcos. Lucas faz o mesmo, por bem mais que a metade de Marcos.
2.   Numa seção média que ocorre nos três Evangelhos, a maioria das palavras reais usadas por Marcos é reproduzida por Mateus e Lucas, seja alternadamente ou por ambos juntos.
3.   A ordem relativa de incidentes e seções em Marcos é, em geral, apoiada tanto por Mateus como por Lucas; onde um deles abandona Marcos, o outro é geralmente encontrado apoiando-o.

4.    O caráter primitivo de Marcos é mostrado ainda: (a) pelo uso de expressões prováveis de causar ofensa, que são omitidas ou atenua­das nos outros dois Evangelhos; (b) pela rudeza do estilo e gramática, e a preservação de palavras aramaicas.
5.    Pela maneira como o material de Marcos e o que não é de Marcos são distribuídos em Mateus e Lucas, respectivamente, parece que cada um tinha diante de si o material de Marcos, num único documento, e confrontava-se com o problema de combinar este com material de outras fontes.
6.    Comparando Mateus e Marcos em material comum a cada, vê-se que Mateus apresenta, invariavelmente, a narrativa mais curta; daí, Mateus reduziu Marcos, ao invés de vice-versa.
Bernard Weiss (Commentary on Mark and Luke — Comentário sobre Marcos e Lucas — 1901) seguiu Lachmann, apoiando Marcos como o primeiro dos Sinópticos. Ele também propôs uma segunda fonte, conten­do o material comum a Mateus e Lucas. Esta fonte foi chamada "Q", da palavra alemã Quelle, que significa "fonte". Não houve acordo unânime quanto ao conteúdo da "Q", e um dos passatempos favoritos dos estudiosos do Novo Testamento é a reconstrução do documento "Q". O quadro a seguir é apresentado para indicar algo do escopo desta "fonte". A ordem dada é a de Mateus; os números acompanhados de um período representam a ordem como a passagem aparece nos respectivos textos.


Mateus
Conteúdo
Lucas
1.
3:7-12
A Pregação de João
1.
3:7-9,16
2.
4:2-11
As Tentações
2.
4:2-13
3.
5:3-6,11,12,39-42, 45-58
Sermão da Montanha I
3.
6:20-23,27-30, 32-36
4.
5:15; 6:22,23
Luz
15.
11:33-35
5.
6:9-13
A Oração do Pai Nosso
10.
11:1-4
6.
6:25-33, 19-21
Ansiedade por Bens Materiais 18.
12:22-34
7.
7:1-5,16-21,24-27
Sermão da Montanha II
4.
6:37,38,41-49
8.
7:7-11
Acerca da Oração
11.
11:9-13
9.
8:5-13
O Centurião de Cafarnaum
5.
7:1-10
10.
8:19-22
Natureza do Discipulado
7.
9:57-60
11.
9:37-10:11
Envio dos Setenta
8.
10:1-12
12.
10:26-33
Exortação à Confissão
17.
12:2-10
13.
11:2-19
A Pergunta de João
6.
7:18-35
14.
11:21,23,25,26
Gritos de Ais e Alegria
9.
10:13-15,21,22
15.
12:22-30
Beelzebu
12.
11:14-23
16.
12:38-42
Recusa de Dar Sinais
14.
11:29-32
17.
12:43-45
Retorno de Demônios
13.
11:24-26


18.  13:31-33                   Mostarda e Fermento             20. 13:18-21
19.  23:4,23-25,29-36     Contra os Fariseus                  16. 11:39-52
20.  23:37,38                   Lamentação sobre Jerusalém  21. 13:34,35
21.  24:26-28,37-41        O Tempo do Fim                    22. 17:22-37
22.  24:43-51                   Vigilância                               19. 12:39-46
23.  25:14-30                   Parábola dos Talentos            23. 19:11-28
Estes versículos são os aproximadamente 250 que são partilhados por Mateus e Lucas, do material que não é de Marcos. Alguns estudiosos acham que esta é a Logía a que Papias se referiu como tendo sido escrita por Mateus em aramaico. A maioria dos estudiosos, todavia, rejeita isto.
A Teoria de Dois Documentos é a solução mais fácil e mais simples para o problema dos Sinópticos. Lembre-se que esta teoria fala em termos de documentos "escritos". Mas há algumas perguntas que ainda não foram satisfatoriamente respondidas. Dos 1.068 versículos de Mateus, talvez cerca de 500 vieram de Marcos e em torno de 250 da "Q"; isto deixa cerca de 300 versículos não explicados. Em Lucas, com a mesma lógica, restam cerca de 580 que não são encontrados nem em Marcos nem na "Q". Alguns argumentaram que o "Q" foi um documento muito maior que aqueles versículos encontrados em Mateus e Lucas, e que os autores, além de usar os versículos partilhados, escolheram os versículos peculiares ao seu Evangelho, dentre o restante deste documento. Esta opinião tem muito pouca aceitação hoje. Ela criaria um documento desajeitado, e o vocabulário e a gramática do material não partilhado são diferentes demais para proporem uma mesma origem.
A Teoria de Documentos Múltiplos — Como a Teoria de Dois Do­cumentos relegou todo o material não encontrado nem em Marcos nem em "Q" a fontes orais, não demorou muito para que os estudiosos começas­sem a propor que Mateus e Lucas tiveram acesso a outros documentos escritos. Após muitos anos, testando-se e tentando-se diferentes idéias, é geralmente aceito que houve, pelo menos, quatro documentos escritos usados na produção dos Evangelhos Sinópticos. Basicamente, estes documentos seriam: Marcos (o material partilhado pelos três Sinópticos), a "Q" (material que não é de Marcos, partilhado por Mateus e Lucas), "M" (material encontrado somente em Mateus) e "L" (material encon­trado somente em Lucas). Esta parece ser a solução mais simples do problema dos Sinópticos. A prova da existência de tais outros documentos é, naturalmente, impossível. Por esta razão, muitos estudiosos não se atêm a esta idéia.
Para ter uma visão do problema em foco, o leitor deve recorrer ao quadro precedente, em que a "Q" é apresentada como aceita por muitos estudiosos, e ao quadro a seguir, que indica os versículos que são peculiares a Mateus e Lucas.

                    Mateus ou "M"             Lucas ou "L"
1:1-2:23                                    1:1-2:52
5:1,2,7-10,13,14,16-38             3:10-15
6:1-8,14-18,23,24,34                4:16-30
7:6,12-15,22,23,28,29               5:1-11
8:14-18,23-34                           7:11-17,36-50
9:18-36                                      8:1-3
10:12-25,34-42                         9:51-56
11:1,20,24,27-30                      10:1,17-20,29-42
13:16,17,36-52                         11:5-8
17:24-27                                   12:13-21,49-56
18:10-35                                   13:1-17,31-33
20:1-16                                      14:1-14,28-33
21:28-32                                    15:1-32
22:1-14                                      16:1-15,19-31
23:38,39                                    17:7-21
24:29-36,42                               18:1-14
25:1-13,31-46                           19:1-10,39-44
27:3-10                                      22:15-18,27-38
28:16-20                                    23:6-16,27-32,40-43
24:13-49,50-53
Para o material que é comum aos três Sinópticos, o leitor deve recorrer a qualquer boa Harmonia dos Evangelhos (como a da autoria de A.T. Robertson).
Conclusões — Do material acima, é, agora, possível tirar-se algumas conclusões exploráveis.
1.   É quase universalmente aceito que o Evangelho de Marcos é o mais antigo dos Sinópticos.
2.   É quase universalmente aceito que tanto Mateus como Lucas fizeram uso de Marcos, na composição de seus escritos. Se eles utilizaram, ou não, nosso Marcos atual é debatido por alguns. Estes desejariam falar acerca de uma edição anterior, chamada "Ur-Marcus". Esta idéia não foi aceita pela maioria dos estudiosos do Novo Testamento.
3.   É quase universalmente aceito que Mateus e Lucas usaram uma segunda fonte. Este material foi chamado "Q". Deve-se ter em mente, contudo, que o "Q" não pode ser estabelecido com certeza. Há muito desacordo acerca de seu conteúdo, mas a presença de tal documento ajuda na explicação da existência de material que não é de Marcos, o qual é comum a Mateus e Lucas.
4.   É quase universalmente aceito que houve outras fontes para a com­posição de Mateus e Lucas. Este material foi designado como "M" (encontrado somente em Mateus) e "L" (encontrado somente em Lucas"). Se estas duas fontes foram orais ou escritas, não foi determinado satis­fatoriamente. A chamada Teoria de Quatro Documentos foi pela primeira vez proposta por B.H. Streeter, em The Four Gospels — Os Quatro Evangelhos — em 1924. Vários estudiosos propuseram outras idéias acerca de fontes, mas esta de Streeter é a mais simples e causa menos problemas.
5.          5. A tarefa da Crítica da Fonte está longe de estar terminada. A discussão acima é somente acerca de teorias. Existe um documento usado como uma fonte, o Evangelho de Marcos. Todas as outras idéias não são mais que conjeturas, nas tentativas de satisfazer às perguntas sobre a composição dos Sinópticos.
6.          O gráfico, a seguir, talvez auxiliará o leitor a lembrar-se da Teoria de Quatro Documentos.


CRÍTICA DA FORMA
A Crítica da Forma é um método de estudo que lida com o estágio pré-literário da tradição dos Evangelhos, quando o material foi transmi­tido oralmente. A palavra Formgeschichte apareceu no subtítulo de Ágnostos Theós, de Eduard Norden, em 1913. Ela significa "história das formas". A escola, contudo, tem seu nome na menos significativa de suas obras (E.C. Colwell, The Study of the Bible — O Estudo da Bíblia — p. 162). Talvez a principal contribuição não seja o estudo das formas, mas a ênfase colocada sobre a comunidade primitiva em que a tradição foi formada.
Em 1901, Wilhelm Wrede publicou sua obra de maior relevo, Das Messiasgeheimnis in den Evangelien — O Segredo Messiânico nos Evan­gelhos — em que ele procurou provar que Marcos, historicamente, não merece confiança. Ele acreditava que todos os elementos acerca do "Segredo Messiânico" foram criados e inseridos pela Igreja. Uma vez que Mateus e Lucas usaram Marcos, este também adaptara suas "fontes" e era indigno de confiança. Nem toda tradição foi primitiva, nem toda tradição primitiva foi precisa, e Marcos foi influenciado pela teoria do "Segredo Messiânico" criada pela Igreja. Julius Wellhausen, em Das Evangelium Lucae — O Evangelho de Lucas — 1903, concordou com Wrede, ao dizer que a estrutura dos Sinópticos é artificial e as inserções editoriais não são históricas. Ele também disse que o documento "Q" não merece confiança.
Johannes Weiss (The Oldest Gospel — O Mais Antigo Evangelho — 1903) respondeu ao argumento de Wrede e mostrou que Marcos era quase 100 por-cento autêntico, mas permitiu algum material ser classificado como acréscimos inseridos pela Igreja. Em 1905, Wendland (Primitive Mark — Marcos Primitivo) propôs que Marcos teve duas fontes e que elas foram imperfeitamente unidas por ele. Estas fontes foram orais e cha­madas Apothegmas (Máximas) e Wonder Stories (Histórias Miraculosas). Por volta de 1917, Hermann Gunkel estava usando métodos de pesquisa, desenvolvidos no estudo da literatura oriental e grega primitiva, para a análise das tradições em Gênesis e nos Salmos. A idéia era recuperar o Sitz im Leben no qual as tradições surgiram. Depois este método de pesquisa começou a ser aplicado à literatura do Novo Testamento e especialmente aos Evangelhos Sinópticos.
Depois de 1918, quatro livros apareceram dentro de poucos anos e independentemente uns dos outros. Estes quatro livros sugerem uma tendência, nos estudos do Novo Testamento, que é denominada "Crítica da Forma do Novo Testamento". O primeiro livro a aparecer foi Der Rahmen der Geschichte Jesu (A Estrutura da História de Jesus), de Karl Schmidt. Schmidt escreveu que Marcos não era de confiança nem crono­lógica nem topograficamente, para biografia. Marcos amarrou juntas histórias e anedotas separadas, com suas próprias inserções de redação, e usando a palavra euthús (imediatamente), para fazer uma transição suave de uma narrativa para outra. Mateus e Lucas alteraram a ordem de Marcos e, assim, devem ter pensado muito pouco acerca dela. Ele presume que Marcos usou suas fontes e Mateus e Lucas usaram as deles.
Martin Dibellius foi um crítico da forma conservador. Seu livro, Die Formengeschichte des Evangeliums — A História das Formas dos Evangelhos (1919), é ainda um clássico no campo da Crítica da Forma. Sua classificação de "formas" é mais largamente usada que qualquer outro sistema. Outro clássico, Die Geschichte der Synoptischen Tradition (A História da Tradição Sinóptica), de Rudolf Bultmann, apareceu no mesmo ano. Esta obra é muito mais liberal que a de Dibellius e teve influência bem maior na teologia liberal do que talvez qualquer outro volume. Outro autor, Martin Albertz, publicou sua obra, Die Synoptis­chen Streitgesprâche(A Linguagem dos Sinópticos em Debate), em 1921. Parece que ele não tinha conhecimento dos três livros mencionados acima, mas chegou às mesmas conclusões que eles.

Não há muito acordo quanto à classificação do material; mas há acordo em que todas as narrativas foram produzidas por causa da necessidade de proclamação ou instrução. Martin Dibellius acreditava que as tradi­ções receberam suas formas das necessidades da pregação missionária. Ele tem cinco classificações: (1) Paradigmas — São narrativas curtas, estimadas pelos ensinos de Jesus; os detalhes são secundários. (2) Novelescas — São estimadas pelo próprio conteúdo. Mostram o poder de Jesus sobre a natureza. (3) Ditos — São valiosos como ensinos catequéticos. (4) Lendas — São narrativas acerca de homens santos e lugares santos. (5) Mitos — São eventos sobrenaturais e têm muito pouco valor histórico.
Rudolf Bultmann, por outro lado, escreveu que a tradição recebeu sua forma das controvérsias que surgiram na comunidade. Ele alista quatro formas separadas: (1) Apophthegmata — São os paradigmas de Dibellius. (2) Ditos — São palavras de sabedoria, "Q", e locuções proféticas e apocalípticas, regras de lei e parábolas. A maior parte destas são criações da igreja. (3) Histórias Miraculosas — Sem historicidade. (4) Lendas — Não têm valor histórico.
Talvez fosse mais benéfico, para o estudante moderno, escolher a termi­nologia que é mais fácil de ser entendida. Os parágrafos a seguir são apresentados para demonstrar algumas das conclusões do método da Crítica da Forma, para a reprodução da tradição oral pré-literária da comunidade cristã primitiva.
A História Simples — As histórias simples são variadamente chamadas Paradigmas (Dibellius), Apophthegmata (Bultmann) e Histórias de Pronunciamento (Vincent Taylor). Este é o tipo de história que é bem acabada, completa em si, não pressupõe nenhuma ligação com o que precede ou se segue, e mostra brevidade e simplicidade. Há uma falta muito notável de detalhe colorido. Geralmente os personagens são identificados quanto ao nome. Este tipo de narrativa está, provavelmente, mais próximo ao evento real do que qualquer uma das outras "formas". Os seguintes são os exemplos relativamente puros de Marcos e exemplos menos puros de Marcos e Lucas.
PUROS                                       MENOS PUROS
O Paralítico, 2:1-12                           A Cura na Sinagoga, 1:23-28
O Jejum, 2:18-20                              A Vocação de Levi, 2:13-17
A Colheita de Espigas, 2:23-28        Jesus em Nazaré, 6:1-6
A Cura da Mão Mirrada, 3:1-6         O Jovem Rico, 10:17-29
A Família de Jesus, 3:31-35              Os Filhos de Zebedeu, 10:35-45
A Bênção das Crianças, 10:13-16     O Homem Cego de Jericó,
10:46-52
O Tributo, 12:13-17                          A Purificação do Templo, 11:15-19
 A Unção de Jesus, 14:3-9                 A Pergunta dos Saduceus,
  12:18-23
Os Samaritanos Inospitaleiros,
     Lucas 9:51-56
A Cura dum Hidrópico,
    Lucas 14:1-6
Em comparação com as passagens correspondentes, em Mateus e Lucas, pode ser observado que os exemplos acima estão aumentados e embelezados.
A História Elaborada — As histórias elaboradas são as Novelescas de
Dibellius e as Histórias Miraculosas de Bultmann e Taylor. Novamente, estas histórias são completas em si, mas contêm uma grande quantidade de detalhes. O interesse encontra-se no próprio milagre, e o "dito" (se existe um) de Jesus é de importância secundária. Estas narrativas são escritas para satisfazer à curiosidade do leitor, e, portanto, há sempre uma confirmação do milagre no final da narrativa. Estas são menos dignas de confiança que as histórias simples, e estão mais afastadas do evento. Dibellius alista nove desta forma de Marcos e uma de Lucas.
A Cura do Leproso, 1:40-45
O Acalmar da Tempestade, 4:35-41
O Endemoninhado Geraseno, 5:1-20
A Filha de Jairo e a Mulher com Fluxo de Sangue, 5:21-43
A Alimentação dos Cinco Mil, 6:35-44
Andando sobre as Águas, 6:45-52
A Cura do Surdo-mudo, 7:32-37
O Cego de Betsaida, 8:22-26
O Menino Epiléptico, 9:14-29
O Jovem de Naim, Lucas 7:11-17
Em comparação com passagens correspondentes, em Mateus e Lucas, vê-se uma tendência para diminuir-se a narrativa de Marcos a quase uma forma de "História Simples". A existência, lado-a-lado, de histórias simples e elaboradas, em Marcos, confirma a crença de que ele estava trabalhando com materiais recebidos. De outra maneira, no Evangelho, teria utilizado, quase exclusivamente, uma só forma.

Lenda Sagrada — As lendas sagradas são narrativas acerca de pessoas da história sagrada. A palavra lenda, em seu sentido primário, tem a ver com a vida de um santo. Lendas são histórias que foram construídas em torno de uma pessoa que esteve em contato com Jesus. A ênfase é colocada sobre essa pessoa, em vez de sobre o Senhor. Algumas das narrativas de Marcos foram transformadas em lendas (narrativas lendárias). Alguns dos casos a seguir são mais, aparentemente, lendas do que outros.
Marcos 11:1-10, A Descoberta do Jumento
Marcos 14:12-16, A Descoberta da Sala para a Última Ceia
Mateus 1:18-2:23, A Natividade
Mateus 14:28-33 (Marcos 6:47-52), Andando Sobre a Água
Mateus 16:13-20 (Marcos 8:27-30), Confissão em Cesaréia de Filipe
Mateus 27:1-10, A Morte de Judas
Lucas 1:5-2:40, A Natividade
Lucas 4:16-30 (Marcos 6:1-6), Jesus em Nazaré
Lucas 5:1-11 (Marcos 1:16,17), A Chamada de Pedro
Lucas 7:36-50 (Marcos 14:3-9), A Unção de Jesus
Lucas 19:1-10, Zaqueu
A História Mítica — As histórias míticas foram denominadas Histórias de Cristo, por Gunther Bornkamm. Este tipo de narrativa, em outras religiões, fala acerca de deuses que aparecem entre os homens (veja a suposição da multidão em Listra, Atos 14:11 e ss.). O mito puro não é encontrado no Novo Testamento, mas o conceito do Filho de Deus tendo um ministério terreno e provando sua divindade por milagres aproxima-se do mítico. As histórias individuais em que os elementos míticos são observáveis incluem o Batismo, A Caminhada sobre as Águas; a Transfi­guração e as Aparições do Senhor Após a Ressurreição.
Os parágrafos acima são todos sucintos demais, mas foram apresenta­dos para estimular o leitor a estudar mais nesta área. É a tarefa deste tipo de estudo distinguir os vários elementos nos Evangelhos e classificá-los, para facilitar a interpretação. É uma tentativa de reproduzir-se a situação de vida em que as narrativas receberam sua forma final. A fim de conseguir isto, há certas suposições sobre as quais o pesquisador deve basear seu trabalho. Ele tem que presumir um período dentre 30 a 40 anos que esteve destituído de documentos escritos. O material, substrato ou pericope deve ter flutuado em volta, independentemente, durante o período final. A classificação desses substratos é de suma importância. Deve ser também presumido que a situação de vida determinou que materiais foram preservados ou usados pelo autor. As mesmas leis de tradição aplicáveis à literatura religiosa de outros países são presumidas de estarem em operação na formação da tradição dos Evangelhos. Deve ser presumido que os Evangelhos pertencem àquele vasto campo de literatura, conhecido como literatura popular, sagas, lendas e mitos, que entesoura histórias de interesse ou valor para certas pessoas. A Crítica da Forma é vista como sendo uma ramificação do estudo das Religiões Comparadas.

Com toda uma aparência de ciência acabada e obra terminada, há certas falhas quanto ao método de aproximação usado pela Crítica da Forma, e, conseqüentemente, em suas conclusões.  As seguintes são algumas das observações do autor e, naturalmente, não esgotam a lista.
1.   A Crítica da Forma falha em contar com os princípios seletivos, propósito e clímax, tão evidentes em cada Evangelho. Isto leva a Crítica da Forma a classificar o Evangelho como uma subliteratura.
2.   A Crítica da Forma subestima o interesse histórico e biográfico dos cristãos primitivos. Algumas coisas foram preservadas, as quais teriam sido registradas somente como o resultado de um interesse no aspecto histórico.
3.        A Crítica da Forma negligencia o fato de que Jesus preparara um grupo para transmitir as tradições que esses cristãos primitivos classifica­ram numa categoria diferente da das palavras dele. A presença de testemunhas oculares no período formativo e a capacidade delas em verificar e salvaguardar a tradição que esteve na escrita 20-40 anos depois de Cristo é negligenciada. Ela negligencia, convenientemente, a possibili­dade de que a tradição delineou os interesses da comunidade, bem como a possibilidade de que os interesses da comunidade influenciaram a seleção da tradição. O caráter revolucionário de Jesus e suas palavras e feitos são também negligenciados. Este elemento torna absurda a criação pela comunidade. Também, é inconcebível que a comunidade fosse criar tantas situações problemáticas: batismo por João, maldição da figueira, etc.

4.   A Crítica da Forma falha em reconhecer a influência helenística no meio palestino, que explica certas tradições. Estas são explicadas, dizem os críticos da forma, pela datação tardia e influência estrangeira.
5.   A Crítica da Forma erra ao citar material extra-bíblico, bem como exemplos paralelos de tradições transmitidas. Não há paralelos. Não existe nenhum paralelo na transmissão dos materiais do Evangelho como um todo.
6.   A Crítica da Forma presume que a tradição ou a história sempre procede do simples para o complexo.
7.   A Crítica da Forma tira conclusões impróprias da analogia e de outras circunstâncias que não são necessariamente análogas. A pura analogia não é prova de dependência ou um argumento contra a his­toricidade.
8.    A Crítica da Forma faz uso demasiado do Sitz im Leben hipoté­tico. Ela alega que a situação histórico-social (hipotética) criou todas as formas para preencher uma necessidade (hipotética). A possibilidade de que o cristianismo e sua causa são suficientemente explicados nas situações de vida apresentadas nos Evangelhos é ignorada.
9.    A Crítica da Forma é demasiadamente subjetiva e arbitrária. Ela rejeita o sobrenatural, em terrenos filosóficos, e cessa de ser objetiva. Ela negligencia a evidência dos escritores do segundo século e os variados interesses da igreja primitiva. Ela, injustificavelmente, presume que o contexto, o cenário e os dados cronológicos não são de nenhum valor, histórica, biográfica e cronologicamente.
10.  A Crítica da Forma negligencia a realidade de Cristo para a igreja primitiva, o fato de que os cristãos estavam prontos para morrer e morreram por sua crença nele e no poder do seu nome. Isto levou a Crítica da Forma a enfatizar excessivamente a Parousia como tal e desenfatizar aquele que havia de vir.
11.  A Crítica da Forma deprecia a educação da igreja primitiva.
12.  A Crítica da Forma negligencia que um tempo tão curto se passou antes de aparecerem os primeiros documentos escritos.
13.  A Crítica da Forma negligencia o tema e o esboço dos livros.
O valor da Crítica da Forma pode ser visto no fato de que este método de estudo ajudou a estabelecer a validade dos registros dos Evangelhos. Ela compeliu a um estudo do período oral e mostrou que os Evangelhos não vieram de apenas quatro homens, mas da comunidade inteira. O período oral foi um período dinâmico, não estático. Através deste campo de estudo, vê-se que é verdade que tais materiais, conforme foram preservados, são aqueles que suprem as necessidades.
CRITICA DA REDAÇÃO
Embora a expressão Crítica da Redação seja nova e relativa no que diz respeito a uma categoria definida, no campo dos estudos do Novo Testamento, a idéia básica sempre esteve presente na interpretação do Novo Testamento. Essa idéia é de que cada autor dos Evangelhos teve seu próprio propósito e plano na seleção de seus materiais para inclusão em sua narrativa. É comparativamente recente, todavia, que mais ênfase foi dada a este princípio básico de interpretação. De fato, a atual escola da Crítica da Redação só poderia ter surgido devido aos esforços tanto da Crítica da Fonte quanto da Crítica da Forma.
Por causa do aumento fenomenal na popularidade desta nova escola de estudo, as definições são abundantes. Uma das melhores definições é como segue:
Redaktionsgeschichte é a tentativa de chegar-se ao propósito ou pro­pósitos, visões e ênfases teológicas únicas que os evangelistas impuse­ram sobre os materiais disponíveis a eles.
Não estamos primordialmente preocupados com tudo o que os evan­gelistas criam. Antes, estamos preocupados em determinar a contri­buição única para as fontes e a compreensão delas pelos evangelistas. Isto será encontrado em suas junções, comentário interpretativo, sumá­rios, modificações de material, seleção de material, omissão de mate­rial, disposição, introduções, conclusões, vocabulário, títulos cristológicos, etc. (Robert H. Stein, "What is Redaktionsgeschichte?" — O Que É Redaktionsgeschichte? — em Journal of Biblical Literature, LXXXVIII, março de 1969, p. 53.)
Uma definição mais concisa é que a Crítica da Redação é a tentativa de se discernir a ênfase teológica de cada um dos Evangelhos como um autor criativo focalizando a atenção sobre os aspectos especiais de sua obra inteira. Isto levaria em conta o acréscimo da situação da vida do autor aos fatores interpretativos dos Evangelhos, e dá a idéia distintiva de que o Evangelho individual deve ser tratado como um todo, em vez de simplesmente como uma coleção de pericopae (substratos).
Mais uma vez a figura-chave, no nascimento da Crítica da Redação, é Wilhelm Wrede. Ao escrever sobre o Segredo Messiânico nos Evange­lhos, Wrede deixou pelo menos duas contribuições, que levaram não somente à Crítica da Forma, mas também à Crítica da Redação. A primeira é que ele demonstrou que Marcos não poderia ser olhado como história simples, mas deve ser entendido como uma história interpretativa, à luz do propósito doutrinário do autor. A segunda contribuição está em seu próprio método de desenvolver seu argumento de que Marcos mostra um interesse dogmático em seu Evangelho. A compreensão de Wrede da tendência teológica de Marcos não está baseada numa única e direta declaração do evangelista, mas numa síntese de tendências, que percorrem todo o Evangelho. Este tipo de síntese representa o método básico do crítico da redação, que busca uma visão total do livro que ele está estudando, a fim de determinar os traços do autor, que é entendido como sendo um editor ou redator.
Seguindo Wrede, as conclusões da escola da Crítica da Forma são de principal importância. De fato, todo crítico da redação bem conhecido confessa ser um crítico da forma ou discípulo de um dos pioneiros das escolas. Os resultados aceitos entre os críticos da forma que são básicos ao trabalho da crítica da redação são como segue:
1.   Os Evangelhos, conforme agora os temos, não são criações simples de um tecido inteiro, mas consistem de coletâneas de material cuja seleção final e disposição devemos aos próprios evangelistas. Mar­cos é aqui a influência primária; ele criou a forma literária "Evange­lho", e Mateus e Lucas, ambos, o seguem e usam seu método.
2.   O material agora apresentado nos Evangelhos tem uma história anterior de uso na igreja, em grande parte uma história de transmissão oral. Ele circulou na igreja na forma de unidades individuais ou pequenas coletâneas de material relacionado, e nesta forma serviu a funções definidas na vida e no culto da igreja.
3. As menores unidades de tradição, a história individual, o diálogo, o dito, etc, têm formas delineadas, que podem ser definidas e estuda­das. Cada uma destas formas serviu a uma função definida, numa situação, e no que é referido como o Sitz im Leben do material. (Norman Perrin, What Is Redaction Criticism? — O Que é a Crítica da Redação? — Guides to Biblical Scholarship, New Testament Series, ed. by Dan O. Via, Jr., Philadelphia: Fortress Press, 1969, p. 3-5.)
O interesse do crítico da forma, nas unidades individuais da tradição, permitiu-lhe prover uma história da tradição que o crítico da redação poderia presumir como sendo história verdadeira. Esta história separou as unidades de tradição da obra dos próprios evangelistas. O tipo de análise detalhada das pericopes dos Sinópticos foi básico para a obra do crítico da redação.
A fim de se ter uma apreciação válida para uma disciplina, é neces­sário entender-se os preceitos fundamentais que caracterizam os propo­nentes dessa disciplina. Há quatro suposições básicas nesta nossa discipli­na.
1.  Os resultados da Crítica da Forma são as bases para maior desen­volvimento crítico. Os próprios discernimentos da Crítica da Forma não estão sujeitos ao exame escolar. Os quatro resultados principais da Crítica da Forma que são vitais são: (1) A forma "evangelho" é uma coletânea de pequenas unidades que foi inventada durante o período da composição do Novo Testamento. (2) As unidades individuais que formam o Evangelho tiveram uma história anterior de circulação como tradição oral, na igreja primitiva. (3) As formas destas unidades individuais foram definidas, estudadas, classificadas e categorizadas exaustivamente pelos seus ce­nários definidos na igreja primitiva. Estas formas existiam independentes da igreja e exerceram um poder através da comunidade, para traçarem as unidades de tradição. Esta história pode ser traçada e seus resultados são garantidos. (4) O propósito para a criação, circulação e uso destas unidades de forma não foi preservar uma história de Jesus, mas fortalecer a vida da igreja.
2.  Os evangelistas atuaram como editores que se sentiam livres para retraçar os materiais, para os encaixarem em seus propósitos teológicos. Eles eram livres para modificar a forma da unidade básica, alterar a ordem dos eventos e ditos dentro de uma unidade, e inserir ou eliminar porções da unidade da tradição.
3.  A análise comparativa das unidades reconstruídas de tradição, nos Evangelhos, pode ser uma ferramenta fecunda para o estudo da história teológica primitiva na igreja. As modificações igualmente surgiram da situação em que o evangelista viveu e trabalhou, e serviram para contar acerca dessa situação. Em particular, a modificação da tradição feita, pelo evangelista, de um Evangelho, pode ser esperada ser compatível e em concordância com sua inclinação dogmática pessoal.
4.            A hipótese da Fonte de Dois Documentos da crítica dos Sinóp­ticos está inteiramente provada e é necessária à compreensão das modifi­cações que foram feitas pelos evangelistas. Ê importante que a prioridade de Marcos seja estabelecida e que o documento "Q" seja bem definido. Desta forma, cada diferença menor entre o autor e sua fonte pode ser facilmente detectada. Mas, no caso de Marcos, os materiais-fonte são as unidades orais da Crítica da Forma, em vez de um documento definido. Como resultado, a Crítica da Redação de Marcos é admitida estar em terreno ligeiramente menos objetivo que a de Mateus e Lucas.
As técnicas usadas na Crítica da Redação são bem interessantes e iluminadoras. Deve-se ter em mente que o propósito desta disciplina é encontrar a teologia distintiva e o propósito de cada autor. A fim de aplicar o método indutivo a este processo e tentar dar-lhe tanta obje­tividade quanto possível, o processo inicia-se com as unidades de tradição, conforme elas foram identificadas pela Crítica da Forma.
O primeiro passo é ler-se cada pericope cuidadosamente, em sua inteireza, esquecendo-se todos os discernimentos obtidos de outra litera­tura do Novo Testamento e vida de Jesus. O segundo passo é observar os aspectos peculiares do material, na suposição de que estes são materiais de redação que refletem aquela inclinação teológica do editor. Isto requer uma "harmonia" em que os resultados da Crítica da Forma e da Crítica da Fonte foram marcados, para mostrarem claramente todos os aspectos especiais do editor. Onde existem materiais paralelos, as diferenças devem ser presumidas como repousando sobre a inclinação teológica peculiar do editor. Isto é particularmente importante quando aplicado aos Evange­lhos "secundários", Mateus e Lucas. Suas diferenças entre Marcos e a "Q" são consideradas como sendo indicadoras especialmente fortes de modificação editorial.
O terceiro passo é analisar o substrato em relação ao restante do Evangelho em estudo. Este processo envolve a coleta de uma lista de usos especiais de certos termos que são encontrados no substrato individual como peculiares a esse Evangelho. Se há uma alteração sistemática no material-fonte, espera-se que este passo a encontre. Este é o momento de reunir os discernimentos que foram obtidos a partir dos substratos.

O passo final é, tendo-se formado uma hipótese do propósito dogmático do autor, testar esta hipótese contra algumas dos outros substratos, a fim de mostrar se ela é válida. Neste processo é freqüentemente possível encontrar-se unidades adicionais de material peculiar, as quais são relevantes para a hipótese, mas não foram percebidas na análise anterior (Norman Perrin, What Is Redaction Criticism?).
Esta breve discussão da Crítica da Redação não oferece uma base adequada para conclusões finais acerca do ensino dos Evangelhos Sinóp­ticos. Ela serve, antes, para enfatizar os problemas complicados que estão envolvidos na tentativa de uma solução do Problema dos Sinópticos.





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