sábado, 1 de outubro de 2011

Baixa Crítica X Alta Crítica

Teologia do Novo Testamento
O desenvolvimento da crítica textual[1]
Uma vez reunidos todos os manuscritos e as demais evidências que dão testemunho quanto ao texto das Escrituras, o estudante da crítica textual torna-se herdeiro de uma tradição grandiosa. Ele passa a ter à sua disposição grande parte dos documentos que devem ser usados a fim de apurar a verdadeira redação do texto bíblico. Este capítulo trata do desenvolvimento histórico da ciência da crítica textual.

Distinção entre a alta crítica a baixa crítica
Levantou-se muita confusão e controvérsia em torno da questão da "alta" crítica (crítica histórica) e da "baixa" crítica (crítica textual) da Bíblia. Parte dessa controvérsia resultou da má compreensão do termo crítica aplicado às Escrituras. Em seu sentido gramatical esse termo diz respeito meramente ao exercício do julgamento. Quando se aplica à Bíblia, é usado no sentido de exercício do julgamento da própria Bíblia. Todavia, existem dois tipos básicos de crítica, e duas atitudes básicas diante de cada tipo. Os títulos atribuídos a esses dois tipos de crítica nada têm que ver com sua importância, conforme ilustra o debate que se segue.

A alta crítica (histórica)
Quando se aplica o julgamento dos estudiosos à autenticidade do texto bíblico, esse julgamento se chama alta crítica ou crítica histórica. O assunto desse tipo de julgamento dos especialistas dias respeito à data do texto, seu estilo literário, sua estrutura, sua historicidade e sua autoria. O resultado é que a alta crítica na verdade não é parte fundamental da matéria Introdução Geral ao Estudo da Bíblia. Antes, a alta crítica é a própria essência da Introdução Especial. Os resultados dos estudos da alta crítica, feitos pelos herdeiros da teologia herética dos fins do século XVIII, não passam de um tipo de fruto altamente destrutivo.

O Antigo Testamento. A última data atribuída aos documentos do Antigo Testamento induziu alguns estudiosos a atribuir seus elementos sobrenaturais a lendas ou mitos. Isso resultou na negação da historicidade e da autenticidade de grande parte do Antigo Testamento por parte dos estudiosos céticos. Na tentativa de mediar entre o tradicionalismo e o ceticismo, Julius Wellhausen e seus seguidores desenvolveram a teoria documental, a qual propõe datar os livros do Antigo Testamento de modo
menos sobrenaturalista. O resultado foi que desenvolveram a teoria JEDP sobre o Antigo Testamento. Tal teoria baseia-se em grande parte no argumento de que Israel não
possuía escrita, antes da monarquia, e que um Código Eloísta (E) e um Código Javista (J) baseavam-se em duas tradições orais a respeito de Deus ("E" indicava o nome de Eloim e "J" o nome de Jeová [Yahweh]). A esses foi acrescentado o Código Deuteronômico (D) (documentos atribuídos ao tempo de Josias) e o chamado Sacerdotal ("Priestly" em inglês, de onde se origina o "p") do judaísmo pós-exílico. Essas opiniões não agradaram aos estudiosos ortodoxos, pelo que se levantou uma onda de oposição. Essa oposição surgiu só depois de longo tempo, de modo que o mundo dos estudiosos na maior parte seguiu a teoria de Wellhausen, de W. Robertson Smith e de Samuel R. Driver. Quando, finalmente, a oposição levantou sua voz contra a "crítica destrutiva", esta foi considerada insignificante, desprezada e arquivada. Entre os opositores estavam os proponentes de uma "crítica construtiva", como William Henry Green, A. H. Sayce, Franz Delitzch, James Orr, Wilhelm Moller, Eduard Naville e RobertDick Wilson.
O Novo Testamento. A aplicação de princípios semelhantes aos escritos do Novo Testamento surgiu na escola de teologia de Tübingen, por orientação de Heinrich Paulus, de Wilhelm de Wette e de outros. Esses homens desenvolveram princípios que desafiavam a autoria, a estrutura, o estilo e a data dos livros do Novo Testamento. A crítica destrutiva do modernismo induziu à crítica da forma, aplicada aos evangelhos, à negação da autoria de Paulo da maior parte das cartas a ele atribuídas até então. Chegou-se à conclusão de que só se poderia reconhecer como autenticamente paulinas as "Quatro Grandes" (Romanos, Gálatas, 1 e 2Coríntios). Por volta do final do século XIX, estudiosos ortodoxos competentes começaram a desafiar a crítica destrutiva da escola da alta crítica. Dentre esses estudiosos ortodoxos estavam George Salmon, Theodor von Zahn e R. H. Lightfoot. A obra desses homens quanto à alta crítica deve certamente ser considerada crítica construtiva. Grande parte do trabalho recente feito no campo da alta crítica revelou sua natureza racionalista na teologia, ainda que reivindicasse estar fundamentada na doutrina cristã ortodoxa. Esse racionalismo mais recente manifesta-se mais abertamente quando versa sobre certos assuntos como os milagres, o nascimento virginal de Jesus e sua ressurreição física.

A baixa crítica (textual)
Quando o julgamento dos estudiosos se aplica à confiabilidade do texto bíblico, ela é classificada como baixa crítica ou crítica textual. Abaixa crítica aplica-se à forma ou ao texto da Bíblia, numa tentativa de restaurar o texto original. Não deve ser confundida com a alta crítica, visto que a baixa crítica, ou crítica textual, estuda a forma das palavras de um documento, e não seu valor documental. Muitos exemplos de baixa crítica podem ser encontrados na história da transmissão do texto bíblico. Alguns
desses exemplos foram produzidos por leais defensores do cristianismo ortodoxo, mas outros provieram de seus mais veementes opositores. Os estudiosos que se interessam por obter o original de um texto, mediante a aplicação de certos critérios ou padrões de qualidade, são críticos textuais. Em geral, o trabalho desses homens é construtivo, e sua atitude básica, positiva. Alguns deles seguem o exemplo de B. F. Westcott, sir Frederick G. Kenyon, Bruce M. Metzger e outros. Os que usam esses critérios para
tentar destruir o texto são "descobridores de defeitos", apenas se interessam por encontrar falhas, e seu trabalho é basicamente negativo e destrutivo. Visto que muitos dos que abraçaram a alta crítica investiram muito tempo e energia no estudo da crítica textual, tem havido uma tendência para que se classifiquem todos os críticos textuais com o termo "modernistas", críticos destrutivos ou críticos apegados à "alta crítica". Ao fazerem isso, alguns cristãos virtualmente "atiraram o bebê no ralo junto com a água do banho". Desaprovar a crítica textual meramente por que certos críticos da "alta crítica" empregaram esse método em seu trabalho dificilmente representa uma posição justificável, digna de ser defendida. A questão mais importante não é se a crítica é alta ou baixa, mas se é sadia, ortodoxa, Trata se de assunto de evidências e de argumentações, não de pressuposições apriorísticas.

O desenvolvimento histórico da crítica textual
A história do texto da Bíblia na igreja pode ser dividida em vários períodos básicos, de modo especial com referência ao Novo Testamento: 1) o período de reduplicação (até 325), 2) o período de padronização do texto (325-1500), 3) o período de cristalização (1500-1648) e 4) o período de crítica e de revisão (1648 até o presente). Neste período de crítica e de revisão, tem havido uma luta entre os proponentes do "texto recebido" e os que advogam o "texto criticado". Nesse debate o texto criticado tem ocupado a posição de predominância. Ainda que não haja muitos estudiosos hoje que defendam seriamente a superioridade do texto recebido, deve-se observar que não existem diferenças substanciais entre o texto recebido e o texto criticado. As diferenças porventura existentes entre ambos são meramente de ordem técnica e não doutrinária, visto que as variantes não acarretam implicações doutrinárias. Apesar disso, tais estudos "críticos" com freqüência são úteis para interpretar a Bíblia, e para todos os propósitos práticos as duas tradições textuais comunicam o conteúdo dos autógrafos, ainda que estejam separadamente guarnecidas de pequenas diferenças escribais e técnicas.


[1] Introdução Bíblica. Como a Bíblia Chegou até nós Norman Geisler e Willian Nix

6 comentários:

  1. Pr. Leonir o seu blog é bastante interessante, muito informativo, bem diversificado e por isso não estou conseguindo me situar dentro do assunto liderança, realmente não estou sabendo do que me apropriar. Deus continue te abençoando.
    Seu aluno Orange Dennis Lamego

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  2. Obrigado. Vc tentou entra via Google? Ex.: Aula 1 de liderança pr leonir? tente e me fale
    paz

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O que o sr acha da pressuposição de que o livro de Provérbios foi inspirado no livro de sabedoria do farao Amenemope? Tem alguma fonte para referência de sua opinião?

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  5. Olá
    Perdão pela demora... Dentro da cultura da época há várias conexões de palavras e temas, mas dizer que uma se inspirou na outra é fazer uma análise anacrônica, sendo que ainda que as culturas se conhecessem na época, os livros não circulavam(nem havia livros e sim tipos de escritos como papiros etc). Enfim não concordo. paz

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  6. Gostei do seu blog!
    Muito rico com informações precisas.
    Bem eu particularmente defendo a Baixa Crítica, e tratando-se de Ms. defendo os textos majoritários, obviamente Julius Wellhausen sempre tendencioso ao ceticismo.
    Repudio essa tentativa de prevalência dos racionalistas em buscar explicação comprovadas cientificamente, quando na verdade Deus e seus derivados estão muito além da ciencia.

    Elton Maia Teologo

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