terça-feira, 1 de maio de 2012

A ESSÊNCIA DA NATUREZA DO HOMEM Anexo aula 11


A Essência da Natureza do Homem (Grudem e comentário e modificações leonir)


Anexo aula 11

A Essência da Natureza do Homem

A. Introdução: tricotomia, dicotomia e monismo

De quantas partes compõe-se o homem? Todos concordam que temos um corpo físico. A maioria das pessoas (tanto cristãos quanto não cristãos) sente que também tem uma parte imaterial — uma “alma” que sobreviverá à morte do corpo.
Mas aqui termina a concordância. Algumas pessoas crêem que, além do “corpo” e da “alma”, temos uma terceira parte, um “espírito” que se relaciona mais diretamente com Deus. A concepção de que o homem é constituído de três partes (corpo, alma e espírito) chama-se tricotomia.  

B. Dados bíblicos

Antes de perguntar se as Escrituras entendem “alma” e “espírito” como partes distintas do homem, precisamos desde já deixar claro que a ênfase bíblica está na unidade global do homem como criatura de Deus. Quando Deus fez o homem, “lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Adão é aqui uma pessoa unificada, com corpo e alma vivendo e agindo juntos.

1. As Escrituras usam “alma” e “espírito” indistintamente. (em um estudo apurado do hebraico se vê que o uso não é tão indistinto assim)

Quando analisamos o uso das palavras bíblicas traduzidas como “alma” (heb. nephesh e gr. psychÂ)e “espírito” (heb. rõach e gr. pneuma),  parece-nos que às vezes são usadas indistintamente. Por exemplo, em João 12.27, diz Jesus: “Agora, está angustiada a minha alma”, enquanto num contexto muito parecido, no capítulo seguinte, João diz que Jesus “angustiou-se [...] em espírito” (Jo 13.21). Do mesmo modo, lemos as palavras de Maria em Lucas 1.46-47: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador”. Esse parece um exemplo bem evidente de paralelismo hebraico, o artifício poético em que a mesma idéia é repetida com o uso de palavras diferentes mas sinônimas.

2. Na morte, as Escrituras dizem tanto que a “alma” parte quanto que o “espírito” parte.

Quando da morte de Raquel, diz a Bíblia: “Ao sair-lhe a alma (porque morreu)...” (Gn 35.18). Elias ora para que a “alma” da criança morta volte ao corpo (1Rs 17.21), e Isaías prediz que o Servo do Senhor derramaria “a sua alma [heb. Nephesh} na morte” (Is 53.12). No Novo Testamento, Deus diz ao rico insensato: “Esta noite te pedirão a tua alma [gr. psychÂ]” (Lc 12.20). Por outro lado, às vezes a morte é tida como o retorno do espírito a Deus. Por isso Davi ora, em palavras mais tarde citadas por Jesus na cruz: “Nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Sl 31.5; cf. Lc 23.46). Na morte, “o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7). No Novo Testamento, na hora da sua morte, Jesus, “inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19.30) e, do mesmo modo, Estevão orou antes de morrer: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” (At 7.59).

3. O homem é tido tanto como “corpo e alma” quanto como “corpo e espírito”.

Jesus nos exorta a não temer aqueles que “matam o corpo e não podem matar a alma”, mas sim “aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Aqui a palavra “alma” claramente se refere à parte da pessoa que persiste após a morte. Não pode significar “pessoa” ou “vida”, pois não faria sentido falar daqueles que “matam o corpo e não podem matar a pessoa”, ou que “matam o corpo e não podem matar a vida”, a menos que haja algum aspecto da pessoa que continue vivo depois da morte do corpo.

4. A “alma” pode pecar, ou o “espírito” pode pecar.

Aqueles que defendem a tricotomia geralmente concordam que a “alma” pode pecar, pois crêem que a alma inclui o intelecto, as emoções e a vontade. (Vemos que nossa alma pode pecar em versículos como 1Pe 1.22; Ap 18.14.)
O tricotomista, porém, geralmente considera que o “espírito” é mais puro do que a alma e, quando renovado, livre do pecado e sensível ao chamado do Espírito Santo. Essa concepção (que às vezes se insinua na pregação e nos escritos cristãos populares) não encontra realmente apoio no texto bíblico. Quando Paulo encoraja os coríntios a se purificar “de toda impureza, tanto da carne como do espírito” (2Co 7.1), ele sugere nitidamente que pode haver impureza (ou pecado) no espírito. Do mesmo modo, fala da mulher solteira que se preocupa em ser santa “assim no corpo como no espírito” (1Co 7.34).

5. Tudo o que se diz que a alma faz, diz-se que o espírito também faz; e tudo o que se diz que o espírito faz, diz-se que a alma também faz. (Exceto na passagem em que ele diz que ora em espírito e não diz que ora em alma I Co 14.14)

Os defensores da tricotomia enfrentam um problema difícil na definição clara e exata da diferença entre alma e espírito (segundo o seu ponto de vista). Se as Escrituras dessem claro apoio à idéia de que o espírito é a parte de nós que diretamente se relaciona com Deus em adoração e oração, enquanto a alma abarca o intelecto (pensamentos), as emoções (sentimentos) e a vontade (decisões), então os tricotomistas teriam em mãos um forte argumento. Todavia, a Bíblia parece não dar apoio a tal distinção.

C. Argumentos em favor da tricotomia

Os que adotam a posição tricotomista buscam apoio em várias passagens das Escrituras. Relacionamos abaixo as mais comumente usadas.

1. 1Tessalonicenses 5.23.

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23). Esse versículo porventura não fala claramente que o homem tem três partes?

2. Hebreus 4.12.

“A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). Se a espada das Escrituras divide a alma e o espírito, esses não seriam então elementos distintos do homem?

3. 1Coríntios 2.14-3.4.

Essa passagem trata de diferentes tipos de pessoas, daqueles que são “carnais” (gr. sarkinos, 1Co 3.1); do que é “não espiritual” (gr. psychikos, lit. “almal”, 1Co 2.14); e daquele que é “espiritual” (gr. pneumatikos, 1Co 2.15). Acaso essas categorias não sugerem tipos diferentes de pessoas — os não cristãos “carnais”, os cristãos “naturais” que seguem os desejos da alma e os cristãos mais maduros que seguem os desejos do espírito? Será que isso não sugere que alma e espírito são elementos distintos da nossa natureza?

4. 1Coríntios 14.14.

Quando Paulo diz: “Se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera” (1Co 14.14), não sugere ele que a mente faz algo diferente do espírito, e não sustentaria isso o argumento tricotomista de que a mente e o pensamento devem ser atribuídos à alma, não ao espírito?

5. O argumento da experiência pessoal.

Muitos tricotomistas dizem que têm uma percepção espiritual, uma consciência espiritual da presença de Deus, que os afeta de um modo que eles sabem ser diferente do pensamento comum e também das emoções.

6. É nosso espírito que nos faz diferentes dos animais.

 Alguns tricotomistas argumentam que homens e animais têm alma, mas sustentam que é a presença do espírito que nos faz diferentes dos animais.

7. O espírito é aquilo que recebe vida na regeneração.

Os tricotomistas também afirmam que, quando nos tornamos cristãos, nosso espírito recebe vida: “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10).

3. 1Coríntios 2.14-3.4.

Paulo certamente distingue a pessoa “natural” (gr. psychikos, lit. “almal”) da “espiritual” (gr. pneumatikos, “espiritual”) em 1Coríntios 2.14-3.4. Mas nesse contexto, “espiritual” parece significar “influenciado pelo Espírito Santo”, pois toda a passagem fala da obra do Espírito Santo de revelação da verdade aos crentes. Nesse contexto, “espiritual” pode praticamente ser traduzido como “Espiritual”.

4. 1Coríntios 14.14.

Quando Paulo diz: “Meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera”, quer dizer que não compreende aquilo que está orando. Sugere sem dúvida que há um elemento não físico no seu ser, um “espírito” dentro dele que pode orar a Deus. Mas nada nesse versículo sugere que ele considere o seu espírito como algo distinto da sua alma. O contrário também é verdadeiro. Ele também não diz que a alma é igual ao espírito.

5. O argumento da experiência pessoal.

Os cristãos têm uma “percepção espiritual”, uma consciência íntima da presença de Deus vivenciada na adoração e na oração. Nesse profundo nível íntimo podemos também às vezes nos sentir espiritualmente angustiados, ou deprimidos, ou quem sabe ter a sensação da presença de forças demoníacas hostis. Muitas vezes essa percepção se distingue da nossa consciência, dos processos mentais racionais. Paulo percebe que às vezes seu espírito ora sem que sua mente compreenda (1Co 14.14).

6. O que nos faz diferentes dos animais?

É verdade que temos capacidades espirituais que nos fazem diferentes dos animais: somos capazes de nos relacionar com Deus por meio de adoração e oração e gozamos de vida espiritual em comunhão com Deus, que é espírito. Mas não devemos supor que temos um elemento distinto chamado “espírito” que nos possibilita fazê-lo, pois com a mente podemos amar a Deus, ler e compreender as suas palavras e crer que sua Palavra é verdadeira. Mas a Bíblia afirma que o Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16), há portanto uma comunicação especial entre o Espírito e nosso espírito.

7. Será que o espírito recebe vida na regeneração?

O espírito humano não é algo morto num descrente, mas recebe vida quando a pessoa professa fé em Cristo, pois a Bíblia fala que os descrentes têm um espírito evidentemente vivo, mas rebelde diante de Deus — seja Seom, rei de Hesbom (Dt 2.30: o Senhor endureceu “o seu espírito”), seja Nabucodonosor (Dn 5.20: “o seu espírito se tornou soberbo e arrogante”), seja o povo infiel de Israel (Sl 78.8: seu “espírito não foi fiel a Deus”). Quando Paulo diz que seu “espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10), aparentemente quer dizer “vivo para Deus”, mas não sugere que antes nosso espírito estivesse completamente “morto”; apenas que vivia afastado da comunhão com Deus, e nesse sentido estava morto.

8. Conclusão.

Embora os argumentos a favor da tricotomia tenham alguma força, nenhum deles proporciona prova concludente que supere o amplo testemunho bíblico que mostra serem os termos alma e espírito muitas vezes intercambiáveis e em muitos casos sinônimos. Mas não há sinônimos idênticos no grego e em minha visão prevalece a Tricotomia.

E. As Escrituras falam realmente de uma parte imaterial do homem que pode existir sem o corpo

Vários filósofos não cristãos têm contestado veementemente a idéia de que o homem tem alguma parte imaterial, como a alma ou o espírito. Talvez respondendo parcialmente a essa crítica, alguns teólogos evangélicos parecem hesitantes em afirmar a dicotomia na existência humana. Em vez disso, afirmam repetidamente que a Bíblia considera o homem como uma unidade — fato verdadeiro, mas que não deve ser usado para negar que as Escrituras também consideram que a natureza unificada do homem se compõe de dois elementos distintos.

F. De onde vem nossa alma?

Qual a origem da alma? Duas teses são comuns na história da igreja. E outras 2 não tão comuns, mas existem (monismo e preexitencialismo).
1.      Monismo- fora da esfera do pensamento evangélico existe a ideia que o homem não pode existir de modo nenhum separado de um corpo físico, e que, portanto, não pode haver existência nenhuma de uma “alma” isolada do corpo. Em termos bíblicos corpo e alma seriam apenas modos de descrever a pessoa.
2.      Criacionismo- O criacionismo é a concepção de que Deus cria uma nova alma para cada pessoa e a envia ao corpo da pessoa em algum momento entre a concepção e o nascimento.
3.      Traducionismo -O traducionismo, por outro lado, sustenta que a alma e o corpo da criança são herdados dos pais no momento da concepção. Ambas as teses tiveram defensores numerosos ao longo da história da igreja, tendo afinal prevalecido o criacionismo na Igreja Católica Romana. Lutero era a favor do traducionismo, enquanto Calvino favorecia o criacionismo. Por outro lado, alguns teólogos calvinistas posteriores, como Jonathan Edwards e A. H. Strong, favorecem o traducionismo (como o faz a maioria dos luteranos hoje). O criacionismo também tem muitos defensores evangélicos modernos.
4.      Preexistencialismo- Há outra idéia popular, chamada preexistencialismo, que preconiza que as almas das pessoas existem no céu muito antes dos corpos serem concebidos no ventre das mães, e que Deus depois traz a alma à terra, unindo-a ao corpo do bebê enquanto ele se desenvolve no útero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário