quarta-feira, 18 de maio de 2011

A crise de integridade: realidade da Igreja no Brasil e a necessidade do Discipulado.

A crise de integridade: realidade da Igreja no Brasil e a necessidade do Discipulado.

1. Crescimento quantitativo X Qualitativo

O crescimento dos evangélicos no Brasil deixou de ser objeto de estudo só de teólogos e passou a áreas como sociologia, filosofia e principalmente a mídia tem usado e abusado de reportagens sobre nós. Uma reportagem me chamou atenção em especial, era da Revista Super Interessante, o autor diz: “Há meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos, mais que triplicou o número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980 para 26,4 milhões em 2001, um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira. Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que varreu a Europa no século 16[1].”

Tivemos o senso este ano e vamos ver como está o número real de evangélicos, mas é verdade também que este crescimento tem trazido poucas mudanças no que tange a caráter cristão e cosmovisão bíblica. Na linguagem de John Stott[2] os evangélicos sabem do que foram salvos, só não sabem para que foram salvos. Há na verdade uma mudança radical quanto a comportamento e linguagem (mudanças exteriores), mas pouca mudança quanto a valores essenciais. Citando mais uma vez a Super Interessante: “Um indício de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as (igrejas) neopentecostais exigem poucas mudanças nos fiéis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes[3].”

2. Pouco Impacto

Infelizmente a avaliação do autor poderia ser a minha, a igreja cresce, mas o impacto do crescimento não é sentido pela sociedade como um todo. É claro que uma família que tinha um pai alcoólatra e mulherengo que se converte, para de beber e larga a mulher da rua, sente um impacto tremendo na sua própria família, mas este é um micro impacto e não um impacto em toda a sociedade. Note que, quando vemos a igreja primitiva em seus primeiros dias, ela causou um tremendo estrondo em toda a Roma antiga e em Jerusalém primeiramente. Leia os textos e veja com os próprios olhos:

ATOS 2

42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

43 E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.

44 E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.

45 E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.

46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,

47 Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.

Atos 17. 6 E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui;

Um mundo alvoroçado ou transtornado pelo Evangelho é que nós queremos ver de novo.

3. Pesquisas nada promissoras

No Brasil ainda não há disponível muitas pesquisas sobre crescimento evangélico e melhora da qualidade de vida. Mas temos outros indicadores bem consistentes da não mudança radical dos evangélicos brasileiros.

3.1. Juventude: a pregação é que temos que esperar, mas a prática é de se ter relação antes do casamento

Revista Enfoque Gospel e Eclésia:Até mesmo a garotada evangélica tem optado por esse caminho. Hormônios em plena ebulição somados à falta de informação não produzem os melhores resultados, segundo pesquisa realizada pelo Ministério Lar Cristão. Após entrevistar cerca de cinco mil adolescentes de 22 denominações, entre 1994 e 2000, foi constatado que 52% deles, criados na igreja, já tiveram relações sexuais antes do casamento.

A pesquisa revelou que metade desses jovens tem vida sexual ativa com um ou mais parceiros. Dezessete por cento das adolescentes entrevistadas ficaram grávidas pelo menos uma vez, e quatro de cada 100 optaram pelo aborto. Segundo a investigação, os rapazes evangélicos se iniciam sexualmente, em média, aos 14 anos de idade, e as meninas aos 16[4].”

3.2. Casamento: a pregação é que o casamento é indissolúvel, mas a prática é que nos separamos e nem sempre pelas razões que a Bíblia permite[5].

“IBGE: Para cada quatro casamentos, há uma separação. Taxa de divórcio cresce 200% em 23 anos

RIO - Para cada quatro casamentos realizados em 2007, foi registrada uma separação. É o que mostra a " Estatística do Registro Civil”, divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). De acordo com o estudo, em 2007, foram realizados 916.006 casamentos no país, 2,9% a mais do que em 2006. Já o número de dissoluções - soma dos divórcios diretos sem recurso e separações - chegou a 231.329, a maior taxa na série mantida pelo IBGE desde 1984.

Em 23 anos, a taxa de divórcios teve crescimento superior a 200%, passando de 0,46%, em 1984, para 1,49%, em 2007. Em números absolutos, os divórcios concedidos passaram de 30.847, em 1984, para 179.342 em 2007. Em 2006, esse número foi de 160.848.”[6]

Comparando esta pesquisa com a que fala que os evangélicos triplicaram em 20 anos temos uma forte indicação que nós crescemos, mas não mudamos a sociedade, ou pior, ela piorou apesar de nosso crescimento numérico.

3.3. Pastores: nossa pregação é de paz interior e que a igreja é o corpo de Cristo, no entanto, a metade dos pastores evangélicos do país está em depressão ou estressado.

Pastores em perigo: “Estresse, depressão e transtornos emocionais e comportamentais não são apenas dilemas da sociedade moderna. Pesquisas revelam que quase metade dos pastores evangélicos sofre com essas doenças e estão à beira de um ataque de nervos[7].”

4. A necessidade do discipulado (introdução)

Acreditamos que a igreja atual está assim, mas Deus tem um plano maior para sua igreja. A queda desfigurou a imagem de Deus no homem, no entanto Ele planejou algo melhor para nós: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos[8]. Deus quer restaurar a imagem dEle em nós. Em Jesus temos acesso a “tudo que diz respeito à vida e piedade[9]”. Contrapondo toda nossa natureza carnal há o fruto do espírito[10] nos capacitando a viver conforme Sua vontade. Mas como produzir caráter semelhante ao de Cristo em uma sociedade corrompida? Penso que o único “método” autorizado por Jesus para este tipo de mudança é o DISCIPULADO.

No padrão bíblico o que é o discipulado? O que não é discipulado? Bem, vamos começar com o que não é:

Treinamento;

EBD;

Pregação;

Encontros informais;

Culto nos lares;

Seminário;

Workshops;

Classe de novos convertidos;

Estudos bíblicos

Cobertura Espiritual

G12

Movimento apostólico

Dependência espiritual de outro cristão.

O que é o discipulado cristão?

Biblicamente: LUCAS 14

25 Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe:

26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer(odiar) a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

27 E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.

28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?

29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,

30 Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.

31 Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?

32 De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.

33 Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.

34 Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se há de salgar?

35 Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Discipulado necessariamente implica:

1) Ir a Jesus;

2) Odiar a sua própria vida (termo forte que tentei amenizar olhando o grego e piorou, pois a versão utilizada trazia aborrecer, outra opção de tradução seria detestar, mas não melhora nada);

3) Levar a sua própria cruz

4) Renunciar a tudo quanto tem;

5) Sem as condições acima não podemos ser discípulos de Jesus (seguidores são diferentes de discípulos);

6) Quem tem ouvidos para ouvir que ouça!

7) Somos discípulos de Jesus acima de tudo.

Elementos do discipulado:

ü Vida na vida;

ü Caminhar junto;

ü Relacionamento entre duas pessoas com um compromisso de prestação de contas e crescimento em maturidade;

ü Alguém que se parece com Jesus levando outro a se parecer com Jesus também;

ü Envolvimento verdadeiro;

ü Compromisso entre duas pessoas com vistas ao crescimento das duas;

ü Certa dose de entrega, proporcional a confiança na pessoa

ü Submissão Inteligente

ü Interdependência.



[1] Super Interessante Edição 197 fevereiro/2004

[2] Ouça o Espírito, ouça o mundo. Stott, John R. W.; Editora ABU.

[3] Ibidem a nota 1.

[4]Enfoque Gospel Edição 76 - NOV / 2007

[5] Mateus 19. 1-9

[6] Cláudia Lamego e Maiá Menezes - O Globo; CBN http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/12/04/ibge_para_cada_quatro_casamentos_ha_uma_separacao_taxa_de_divorcio_cresce_200_em_23_anos-586835723.asp

[7] Revista Eclésia, Ano 14, edição 143

[8] Rm 8. 29

[9] II Pe 1.3

[10] Gl 5. 22-23

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