Quando falamos na
humanidade de Cristo, convém iniciar com uma consideração do nascimento
virginal de Cristo. As Escrituras afirmam claramente que Jesus foi concebido no
ventre de sua mãe, Maria, por obra miraculosa do Espírito Santo e sem um pai
humano.
2. Fraquezas e Limitações Humanas
O fato de que Jesus possuía um corpo humano
exatamente como o nosso é visto em muitas passagens das Escrituras. Ele nasceu
assim como nascem todos os bebês humanos (Lc 2.7). Ele passou da infância para
a maturidade assim como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e
se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”
(Lc 2.40).
O fato de Jesus ter
crescido em sabedoria (Lc 2.52) significa que ele passou por um processo de
aprendizado assim como acontece com todas as outras crianças — ele aprendeu a
comer, a falar, a ler e a escrever, e a ser obediente a seus pais (veja Hb
5.8). Esse processo normal de aprendizado fazia parte da genuína humanidade de
Cristo.
Vemos várias indicações
de que Jesus possuía alma humana (ou espírito). Logo antes de sua crucificação,
ele disse: “Agora, está angustiada a
minha alma” (Jo 12.27). João escreve um pouco depois: “Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito” (Jo
13.21). Em ambos os versículos a palavra angustiar
representa o termo grego tarassÜ, palavra muitas vezes empregada em referência a
pessoas ansiosas ou que de repente são surpreendidas por um perigo.
Mateus registra um incidente assombroso no meio do ministério de
Jesus. Ainda que Jesus tivesse ensinado por toda a Galiléia, “curando toda
sorte de doenças e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões
o seguiam” (Mt 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o
conhecia havia muitos anos não o recebeu
(Mt 13.53-58).
3. Impecabilidade. Ainda que o Novo Testamento seja claro em afirmar
que Jesus era plenamente humano exatamente como nós, também afirma que Jesus
era diferente em um aspecto importante: ele era isento de pecado e jamais
cometeu um pecado durante sua vida. Alguns objetam que se Jesus não pecou,
então não era verdadeiramente humano,
pois todos os humanos pecam. Mas os que fazem tal objeção simplesmente não
percebem que os seres humanos estão agora numa situação anormal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e justos. Adão
e Eva no jardim do Éden eram verdadeiramente
humanos antes de pecar, e nós agora, apesar de humanos, não nos conformamos ao
padrão que Deus deseja que preenchamos quando nossa humanidade plena,
impecável, for restaurada.
Às vezes levanta-se
esta questão: “Cristo podia ter pecado?” Alguns defendem a impecabilidade de Cristo, entendendo por impecável “não sujeito a pecar”. Outros objetam que se Jesus não
fosse capaz de pecar, suas tentações não teriam sido reais, pois como uma
tentação seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada não fosse mesmo
capaz de pecar? Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um
lado, o que as Escrituras afirmam claramente e, por outro lado, o que é mais
uma inferência de nossa parte.
(1)
As Escrituras
afirmam claramente que Cristo jamais pecou de fato (veja acima). Não deve haver
nenhuma dúvida a esse respeito em nossa mente.
(2)
Elas também
afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações foram reais (Lc 4.2). Se
cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb
4.15).
(3)
Também
precisamos afirmar com as Escrituras que “Deus não pode ser tentado pelo mal”
(Tg 1.13). Mas aqui a questão torna-se difícil: se Jesus era plenamente Deus e
também plenamente humano (e vamos argumentar adiante que as Escrituras ensinam
isso várias vezes e de maneira clara), então não somos obrigados também a
afirmar que (em algum sentido) Jesus também “não pode ser tentado pelo mal”?
Quando João escreveu
sua primeira epístola, circulava na igreja um ensino herético, segundo o qual
Jesus não era homem. Essa heresia tornou-se conhecida como docetismo. Essa negação da
verdade acerca de Cristo era tão séria que João podia dizer que se tratava de
uma doutrina do anticristo: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo
espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito
que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito
do anticristo” (1Jo 4.2-3).
a. Para
possibilitar uma obediência representativa. Conforme observamos no capítulo
acima sobre as alianças entre Deus e o homem, Jesus era nosso representante e obedeceu em
nosso lugar naquilo que Adão falhou e desobedeceu. Vemos isso nos paralelos
entre a tentação de Jesus (Lc 4.1-13) e a ocasião da prova de Adão e Eva no
jardim (Gn 2.15–3.7). Também reflete-se claramente na discussão de Paulo sobre
os paralelos entre Adão e Cristo, na desobediência de Adão e na obediência de
Cristo (Rm 5.18-19).
b. Para ser um
sacrifício substitutivo. Se Jesus não tivesse sido homem, não poderia ter
morrido em nosso lugar e pago a penalidade que nos cabia. O autor de Hebreus
nos diz: “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a
descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha
que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser
misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer
propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.16-17; cf. v. 14).
c. Para ser o único
mediador entre Deus e os homens. Porque estávamos alienados de Deus por
causa do pecado, necessitávamos de alguém que se colocasse entre Deus e nós e nos
levasse de volta a ele. Precisávamos de um mediador que pudesse representar-nos
diante de Deus e que pudesse representar Deus para nós. Só há uma pessoa que
preencheu esse requisito: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus
e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Para cumprir essa função de
mediador, Jesus tinha de ser plenamente homem e plenamente Deus.
d. Para cumprir o
propósito original do homem de dominar a criação. Como vimos em nossa
discussão sobre o propósito para o qual Deus criou o homem, Deus colocou o ser humano sobre a terra para
subjugá-la e dominá-la como representante divino. Mas o homem não cumpriu esse
propósito, pois caiu em pecado. O autor de Hebreus percebe que Deus pretendia
que tudo fosse sujeitado ao homem, mas reconhece: “Agora, porém, ainda não
vemos todas as coisas a ele sujeitas” (Hb 2.8). Então, quando Jesus veio como
homem, foi capaz de obedecer a Deus e, assim, teve o direito de dominar a
criação como homem, cumprindo o
propósito original de Deus ao colocar o homem sobre a terra. Hebreus reconhece
isso quando diz que agora “vemos [...] Jesus” em posição de autoridade sobre o
universo, “coroado de glória e de honra” (Hb 2.9; cf. a mesma frase no v. 7).
e. Para ser nosso
exemplo e padrão na vida. João nos diz: “... aquele que diz que permanece
nele, esse deve também andar assim como
ele andou” (1Jo 2.6), e nos lembra que “quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele” e que essa esperança de futura conformidade com o caráter de
Cristo confere mesmo agora pureza moral cada vez maior à nossa vida (1Jo
3.2-3). Paulo nos diz que estamos continuamente sendo “transformados [...] na
sua própria imagem” (2Co 3.18), avançando, assim, para o alvo para o qual Deus
nos salvou: sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Pedro nos diz
que, especialmente no sofrimento, temos de considerar o exemplo de Cristo:
“pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21).
f. Para ser o padrão
de nosso corpo redimido. Paulo nos diz que quando Jesus ressuscitou dos
mortos, ressuscitou num novo corpo “na incorrupção [...] ressuscita em glória
[...] ressuscita em poder [...] ressuscita corpo espiritual” (1Co 15.42-44).
Esse novo corpo ressurreto que Jesus possuía quando ressurgiu dos mortos é o
padrão do que será nosso corpo quando formos ressuscitados dos mortos, porque
Cristo é “as primícias” (1Co 15.23) — uma metáfora agrícola que compara Cristo
à primeira amostra da colheita, que demonstra como será o outro fruto daquela
colheita.
g. Para
compadecer-se como sumo sacerdote. O autor de Hebreus lembra-nos de que
“naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os
que são tentados” (Hb 2.18; cf. 4.15-16). Se Jesus não tivesse existido na
condição de homem, não teria sido capaz de conhecer por experiência o que sofremos em nossas tentações e lutas nesta
vida. Mas porque viveu como homem, ele é capaz de compadecer-se mais plenamente
de nós em nossas experiências.
Jesus não
abandonou a natureza terrena após sua morte e ressurreição, pois apareceu aos
discípulos como homem após a ressurreição, até com as cicatrizes dos cravos nas
mãos (Jo 20.25-27). Ele possuía carne e ossos (Lc 24.39) e comia (Lc 24.41-42).
Posteriormente, quando conversava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda
em seu corpo humano ressurreto, e dois anjos prometeram que ele voltaria do
mesmo modo: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11).
Para completar o ensino
bíblico acerca de Jesus Cristo, precisamos declarar não só que ele era
plenamente humano, mas também plenamente divino. Embora a palavra não ocorra de
maneira explícita na Bíblia, a igreja tem empregado o termo encarnação para referir-se ao fato de
que Jesus era Deus em carne humana. A encarnação
foi o ato pelo qual Deus Filho assumiu a natureza humana. A comprovação bíblica
da divindade de Cristo é bem ampla no Novo Testamento. Vamos examiná-la sob
várias categorias.
Nesta seção, examinamos
declarações diretas da Bíblia de que Jesus é Deus ou de que é divino.
a. A palavra Deus (theos) atribuída a Cristo.
Apesar de a palavra theos, “Deus”,
ser em geral reservada no Novo Testamento para Deus Pai, há algumas passagens
em que é também empregada em referência a Jesus Cristo. Em todos esses trechos,
a palavra “Deus” é empregada com um sentido denso em referência àquele que é
Criador do céu e da terra, o governante de tudo.
b. A palavra Senhor (kyrios) atribuída a Cristo.
Às vezes a palavra Senhor (gr. kyrios) é empregada simplesmente como
tratamento respeitoso dispensado a um superior (veja Mt 13.27; 21.30; 27.63; Jo
4.11). Às vezes pode simplesmente significar “patrão” de um servo ou escravo
(Mt 6.24; 21.40). Ainda assim, a mesma palavra é também empregada na
Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento, de uso comum na época de
Cristo) como uma tradução do hebraico yhwh,
“Javé”, ou (conforme traduzido com freqüência) “o Senhor” ou “Jeová”.
c. Outras fortes
alegações de divindade. Além dos usos da palavra Deus e Senhor em
referência a Cristo, temos outras passagens que defendem com vigor a divindade
de Cristo. Quando Jesus disse a seus opositores judeus que Abraão vira seu dia
(o dia de Cristo), eles o contestaram: “Ainda não tens cinqüenta anos e viste
Abraão?” (Jo 8.57). Aqui uma resposta suficiente para provar a eternidade de
Jesus teria sido: “Antes que Abraão fosse, eu era”. Mas não foi isso que Jesus
disse. Antes, ele fez uma declaração muito mais estarrecedora: “Em verdade, em
verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58).
Além das afirmações
específicas da divindade de Jesus vistas nas muitas passagens citadas acima,
vemos muitos exemplos de atos na vida de Jesus que indicam seu caráter divino.
Jesus demonstrou sua onipotência quando acalmou a tempestade no mar com uma palavra (Mt
8.26-27), multiplicou os pães e peixes (Mt 14.19) e transformou a água em vinho
(Jo 2.1-11). Alguns podem objetar, dizendo que esses milagres só mostraram o
poder do Espírito Santo agindo por intermédio dele, assim como o Espírito Santo
poderia agir por meio de qualquer outro ser humano e, assim, isso não comprova
a divindade de Jesus.
Paulo escreve aos
filipenses:
Tende em vós o mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido
em figura humana... (Fp 2.5-7).
Partindo desse texto,
alguns teólogos da Alemanha (a partir de 1860-1880) e da Inglaterra (a partir
de 1890-1910) passaram a defender uma idéia de encarnação que jamais fora
defendida na história da igreja. Essa nova idéia foi chamada “teoria da
kenosis”, e a posição geral representada por ela foi chamada “teologia
kenótica”.
Cristo é plenamente
divino. O Novo Testamento, em centenas de versículos explícitos que chamam
Jesus de “Deus” e “Senhor” e empregam alguns outros títulos de divindade em
referência a ele, e em muitas passagens que lhe atribuem ações ou palavras aplicáveis
somente ao próprio Deus, declara repetidas vezes a divindade plena e absoluta
de Jesus Cristo. “Aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl 1.19) e “nele, habita, corporalmente, toda a
plenitude da Divindade” (Cl 2.9).
Ao longo de toda a
história levantam-se objeções ao ensino neotestamentário da plena divindade de
Cristo. Um ataque recente a essa doutrina merece menção aqui por ter criado
grande controvérsia, pois os que contribuíram para o texto eram todos líderes
eclesiásticos de renome na Inglaterra. O livro era chamado The Mith of God Incarnate [o mito do Deus encarnado], editado por
John Hick (London: SCM, 1977). O título apresenta a tese do livro: a idéia de
que Jesus era “Deus encarnado” ou “Deus vindo em carne” é um “mito” — uma
história que talvez se adequasse à fé das gerações anteriores, mas que não
merece crédito hoje.
Na seção anterior
alistamos alguns motivos pelos quais era necessário que Jesus fosse plenamente
humano para obter nossa redenção. Aqui cabe reconhecer que é também
crucialmente importante insistir na plena divindade de Cristo, não só porque
ela é ensinada de maneira clara nas Escrituras, mas também porque
(1)
só alguém que
fosse Deus infinito poderia arcar com toda a pena de todos os pecados de todos
os que cressem nele — qualquer criatura finita não seria capaz de arcar com tal
pena;
(2)
a salvação vem
do Senhor (Jn 2.9 arc), e toda a
mensagem das Escrituras é moldada para mostrar que nenhum ser humano, nenhuma
criatura, jamais conseguiria salvar o homem — só Deus mesmo poderia; e
(3)
só alguém que
fosse verdadeira e plenamente Deus poderia ser o mediador entre Deus e homem
(1Tm 2.5), tanto para nos levar de volta a Deus como também para revelar Deus
de maneira mais completa a nós (Jo 14.9).
Assim, se Jesus não é
plenamente Deus, não temos salvação e, por fim, nenhum cristianismo. Não é por
acaso que ao longo da história os grupos que abandonaram a crença na plena divindade
de Cristo não têm permanecido muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para
um tipo de religião representada pelo unitarismo nos Estados Unidos e em outros
lugares. “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece
não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho”
(2Jo 9).
O ensino bíblico sobre
a plena divindade e plena humanidade de Cristo é tão amplo que se vem crendo em
ambos desde os primeiros tempos da história da igreja. Mas um entendimento
preciso de como a plena divindade e a plena humanidade poderiam ser combinadas
em uma pessoa só foi formulado gradualmente na igreja e não chegou à forma
final antes da Definição de Calcedônia em 451 d.C.
Quando examinamos o
Novo Testamento, conforme fizemos acima nas seções sobre a humanidade e a
divindade de Jesus, há algumas passagens que parecem difíceis de encaixar.
(Como Jesus podia ser onipotente e ainda assim fraco? Como podia deixar o mundo
e ainda estar presente em todos os lugares? Como podia aprender coisas e ainda
ser onisciente?)
a. Uma natureza faz
algumas coisas que a outra não faz. Teólogos evangélicos de gerações
anteriores não hesitaram em fazer distinção entre coisas feitas pela natureza
humana de Cristo, mas não pela natureza divina, ou pela natureza divina, mas
não pela humana. Parece que temos de fazer isso se quisermos reafirmar a
declaração de Calcedônia de que “é
preservada a propriedade de cada natureza”. Mas poucos teólogos recentes
dispõem-se a fazer tal distinção, talvez por causa de uma hesitação em afirmar
algo que não conseguimos compreender.
b. Tudo o que uma
das naturezas faz, a pessoa de Cristo faz. Na seção anterior mencionamos
uma série de coisas feitas por uma natureza, mas não pela outra na pessoa de
Cristo. Agora precisamos afirmar que tudo o que diz respeito à natureza humana
ou divina de Cristo diz respeito à pessoa de Cristo. Assim Jesus pode dizer:
“antes que Abraão existisse, eu sou”
(Jo 8.58). Ele não diz: “Antes que Abraão existisse, minha natureza humana
existia”, porque ele é livre para falar de qualquer coisa feita só por sua
natureza divina ou só por sua natureza humana como algo feito por ele.
c. Títulos que nos
lembram de uma natureza podem ser empregados em referência à pessoa, mesmo
quando a ação é realizada pela outra natureza. Os autores do Novo
Testamento às vezes empregam títulos que nos lembram ou da natureza humana ou
da natureza divina para falar da pessoa de Cristo, ainda que a ação mencionada
possa ter sido realizada apenas pela outra natureza e não pela que pareça estar
implicada no título. Por exemplo, Paulo diz que se os governantes deste mundo
tivessem compreendido a sabedoria de Deus, “jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1Co 2.8).
d. Uma breve frase
de resumo. Às vezes no estudo da teologia sistemática, a seguinte frase tem
sido empregada para resumir a encarnação: “Permanecendo o que era, tornou-se o
que não era”. Em outras palavras, enquanto Jesus “permanecia” o que era (ou
seja, plenamente divino), ele também se tornou o que não fora antes (ou seja,
também plenamente humano). Jesus não deixou nada de sua divindade quando se
tornou homem, mas assumiu a humanidade que antes não lhe pertencia.
e. A “comunicação”
de atributos. Depois de decidirmos que Jesus era plenamente homem e
plenamente Deus, e que sua natureza humana permaneceu plenamente humana e sua natureza divina permaneceu plenamente divina, podemos ainda
perguntar se algumas qualidades ou capacidades foram dadas (ou “comunicadas”)
de uma natureza a outra. Parece que a resposta é sim.
(1) Da natureza divina para a natureza humana
Ainda que a natureza
humana de Jesus não tenha mudado em seu caráter essencial, porque ela foi unida
à natureza divina na pessoa única de Cristo, a natureza humana de Jesus obteve
(a) dignidade para ser cultuada e (b) incapacidade de pecar, elementos que não
pertencem, de outra maneira, aos seres humanos.
(2) Da natureza humana para a natureza divina
A natureza humana de
Jesus lhe deu (a) a capacidade de experimentar o sofrimento e a morte; (b) a
capacidade de ser nosso sacrifício substitutivo, o que Jesus, só como Deus, não
poderia ter feito.
f. Conclusão. Ao
final desta longa discussão, pode-nos ser fácil perder de vista o que de fato é
ensinado nas Escrituras. Trata-se, de longe, do milagre mais maravilhoso de
toda a Bíblia — muito mais maravilhoso que a ressurreição e até que a criação
do universo. O fato de o Filho de Deus, infinito, onipresente e eterno
tornar-se homem e unir-se para sempre a uma natureza humana, de modo que o Deus
infinito se tornasse uma só pessoa com o homem finito, permanecerá pela
eternidade como o mais profundo milagre e o mais profundo mistério em todo o
universo.
Resumo Teologia Sistemática Waine Gruden Ed Vida Nova