quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Janela Johari (conhecendo-se e ao outro melhor) aula 7


Aula 07

Toda boa solução começa com um bom diagnóstico! Se não enxergamos onde estamos na caminhada cristã, dificilmente iremos crescer. Para isto devemos desenvolver nossa capacidade de diagnosticar. Segue gráfico geral sobre o assunto:


No campo do auto conhecimento segue um bom material sobre o assunto:

A Janela Johari

CONCEITUAÇÃO
É difícil entender a complexidade da personalidade humana, especialmente em suas relações com os outros. Os quatro retângulos abaixo poderão nos ajudar a conceituar o processo da percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. Esta representação de áreas da personalidade é chamada Janela Johari, idealizada por Joseph Luft e Harry Ingham (1961), para ilustrar as relações interpessoais e os processos de aprendizagem em grupo.
Fig.3.1. A Janela Johari.


       I.      A área I (o eu aberto) constitui o nosso comportamento em muitas atividades, reconhecido por nós e por qualquer um que nos observe. Este comportamento varia grandemente conforme nossa estimativa do que é correto em um ambiente específico e com diferentes grupos de pessoas. Esta área limita-se àquilo de que nossos parentes e amigos estão cônscios e ao que nós consideramos óbvio, tais como nossas características, nossa maneira de falar , nossa atitude geral, algumas de nossas habilidades etc.

    II.      A área II (o eu cego) representa nossas características de comportamento que são facilmente percebidas pelos outros, mas das quais, geralmente, não estamos cientes. Por exemplo, alguma manifestação nervosa, nosso comportamento sob tensão, nossas reações agressivas em relação a subordinados, nosso desprezo por aqueles que discordam de nós etc. Podemos especular por que estes padrões de comportamento permanecem desconhecidos para nós e, no entanto, são óbvios aos outros. Há evidências de que é nessa área que, freqüentemente, somos mais críticos com o comportamento dos outros sem percebermos que nos estamos comportando da mesma forma.

 III.      A área III (o eu secreto) representa as coisas sobre nós mesmos que conhecemos, mas que escondemos dos outros. Estas podem variar desde assuntos inconseqüentes até os de grande importância. Numa situação fechada, ou relativamente autoritária, é provável que haja muito mais deste aspecto do que numa situação aberta. A pessoa que conta tudo sobre si mesma a alguém totalmente estranho, ou a um vizinho, pode estar agindo assim por incapacidade de comunicação satisfatória com pessoas que significam, afetivamente, muito para ela. Nesta área e na área II algumas modificações podem ser conseguidas entre indivíduos trabalhando juntos, experimentalmente, com espírito de cooperação e compreensão.

 IV.      A área IV (o eu desconhecido) inclui coisas das quais não estamos cônscios e das quais nem os outros o estão. Constitui-se de memórias de infância, potencialidades latentes e aspectos desconhecidos da dinâmica intrapessoal. Algumas coisas estão muito escondidas e talvez nunca se tornem conscientes; outras mais superficiais e, com o aumento de abertura e feedback, poderão tornar-se conscientes.

MUDANÇAS NOS QUADRANTES
Num grupo novo, a área I, do eu aberto, é muito pequena, há pouca interação livre e espontânea. Com o desenvolvimento dos processos de grupo, ela cresce, pois os membros se sentem mais livres para agir autenticamente. A área III decresce proporcionalmente ao crescimento da área I, uma vez que, num clima de crescente confiança recíproca, há menos necessidade de esconder ou negar pensamentos e sentimentos.
Uma área maior de atividade livre nos membros do grupo provavelmente diminuirá receios e tensões e propiciará possibilidades de orientar os recursos do grupo para a tarefa propriamente dita. Isto significa maior receptividade a informações, opiniões e idéias novas, em si mesmo ou em referência aos processos específicos de grupo. O fato de esconder ou negar comportamentos, idéias e sentimentos durante o processo interativo exige um certo dispêndio constante de energia e por isso a redução da área III (o eu secreto) implica menor mobilização de energia para a defesa deste território. Assim, um número maior de necessidades do indivíduo pode encontrar expressão e maiores serão as probabilidades de o indivíduo ficar satisfeito com seu trabalho e de participar plenamente nas atividades do grupo.
A área II (o eu cego) leva mais tempo a reduzir-se porque, usualmente, há fortes razões de ordem psicológica para a recusa em ver o que se faz ou sente.
É importante frisar que uma mudança em um dos quadrantes provoca modificações em todos os demais. A insegurança tende a diminuir a lucidez e a confiança recíproca, a aumentá-la.

A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL - DAR E RECEBER FEEDBACK
O modelo gráfico Janela Johari permite apreciar o fluxo de informações decorrentes de duas fontes - eu e outros - bem como as tendências individuais que facilitam ou dificultam a direção e a extensão deste fluxo.
Os processos principais que revelam o fluxo interpessoal eu-outros, determinando o tamanho e o formato de cada área da Janela, são os seguintes:
a)      Busca de feedback - consiste em solicitar e receber reações dos outros, em termos verbais ou não verbais, para conhecer como o seu comportamento está afetando os outros, isto é, ver-se com os olhos dos outros;
b)      Auto-exposição - consiste em dar feedback aos outros, revelando seus próprios pensamentos, percepções e sentimentos de como o comportamento dos outros o está afetando.
A utilização desses dois processos de forma equilibrada e ampla propicia desenvolvimento individual e de competência interpessoal. Conquanto teoricamente os dois processos possam ser usados igualmente, isto não ocorre nas situações reais, onde um deles é preferido em detrimento do outro, trazendo assim um estado de desequilíbrio, que se manifesta por tensões, hostilidades e ressentimentos, prejudiciais ao relacionamento e à produtividade.
No exame do traçado da Janela Johari, o tamanho e a forma das áreas merecem atenção, especialmente em se tratando de pessoas que lidam profissionalmente com grupos e desempenham o papel de líderes. As implicações desses aspectos são altamente relevantes pelo significado do tipo de relacionamento que mantém com os outros e suas conseqüências diretas e indiretas, em termos de satisfação pessoal e produtividade no trabalho.
Uma área livre muito reduzida pode significar inibição e restrição de comunicação no relacionamento, resultantes, geralmente, de uma de duas fontes de motivação opostas: de um lado, insegurança, e de outro lado, desejo de controlar os outros. Quanto maior a área livre, provavelmente maior será também a produtividade, apoiada em relacionamento satisfatório. Quando esta área é pequena, indica participação mínima da pessoa numa relação de trabalho e passa a influenciar os sentimentos das outras pessoas e seu grau de investimento emocional é energético nas atividades a serem executadas em comum.
O desequilíbrio nas áreas da Janela pode apresentar-se no sentido vertical ou no sentido horizontal, revelando sempre uma superutilização de um dos processos e subutilização do outro, com suas conseqüências prováveis em termos de reações emocionais negativas e disfuncionalidade da dinâmica interpessoal.
Os processos de solicitar feedback e de auto-exposição podem revelar preferências, consistentes em sua utilização no comportamento interpessoal. Estas tendências, representadas graficamente na Janela Johari, mostram aspectos importantes do relacionamento eu-outros sob a forma de estilos interpessoais de comunicação.


ESTILOS INTERPESSOAIS

Estilo interpessoal I
A Janela Johari, pelo formato e proporções de suas áreas, evidencia o predomínio da área desconhecida com seu potencial inexplorado, criatividade reprimida e psicodinâmica pessoal preponderante.
Os dois processos são usados em grau reduzido, trazendo um relacionamento praticamente impessoal. A pessoa parece ter uma carapaça em torno de si, exibindo comportamentos rígidos e aversão a assumir riscos, ficando retraída e observando mais do que participando.
Este estilo parece estar relacionado a sentimentos de ansiedade interpessoal e busca de segurança, canalizando sua energia para manter-se quase como sistema fechado, ao invés de utilizá-la para autodescoberta e crescimento pessoal.
Fig. 3.2. Estilo interpessoal I.
O estilo tende a gerar hostilidade nos outros, pois a falta de relacionamento é, geralmente, interpretada em função das necessidades das outras pessoas e esta lacuna afeta sua satisfação. Encontrado, com freqüência, em organizações burocráticas, onde, muitas vezes, é até conveniente evitar abertura e envolvimento.

Estilo interpessoal II
Caracteriza-se por uma tendência a perguntar muito sobre si mesmo, como os outros o percebem, o que acham de suas idéias e atos, utilizando preferentemente o processo de solicitar feedback. Ao mesmo tempo, indica pouco desejo de expor-se, ou pouca abertura, o que pode ser interpretado como sinal de desconfiança nos outros.
Diferencia-se do estilo I pela vontade expressa de manter relações com nível razoável de participação no grupo, através de pedidos freqüentes de feedback, solicitando informações quanto a idéias, opiniões e sentimentos dos outros. Procura, geralmente, saber a posição dos outros antes de comprometer-se, o que, a longo prazo, acaba levando as outras pessoas a se irritarem ou se retraírem, gerando sentimentos de desconfiança, reserva, ansiedade, desgosto e hostilidade.
Quanto mais utilizado o processo de solicitar feedback e menos o de auto-exposição, mais aumenta e se consolida o eu secreto, porquanto o tamanho de sua área está inversamente proporcional à quantidade de informação fluindo do indivíduo. Neste estilo, a pessoa pode ser vista como superficial e distante.

Fig. 3.3. Estilo interpessoal II.
Há, certamente, inúmeras razões para a pessoa não se expor e usar menos o processo de dar informações sobre si mesma. Uma delas pode ser o medo de ser rejeitada ou agredida, outra é não receber aprovação ou apoio se os outros conhecerem seus verdadeiros pensamentos e sentimentos. O fator subjacente, em ambas as razões, é a concepção de julgamento negativo de sua pessoa, o que poderia estar relacionado com auto-imagem depreciada e sentimentos de insegurança e, no outro extremo, com motivação de auto-afirmação e desejo de manipular ou controlar as outras pessoas através da retenção proposital de informações esclarecedoras. Os outros podem interpretar as motivações da pessoa dos dois modos. Consideram a falta de abertura como sinal de insegurança, passando a desprezar ou menosprezar a pessoa, ou como falta de confiança e tentativa de controle dos outros pelo fato de deixá-los sem pontos de referência quanto à sua posição e reações.
Nas situações de trabalho, pode-se criar um clima de permissividade indevida ou excessiva, em que todos opinam e dão feedback ao superior, sem que este complemente o processo com auto-exposição, o que tende a ser disfuncional na comunicação, gerando tensões e sentimentos negativos.

Estilo interpessoal III
O indivíduo utiliza intensamente o processo de auto-exposição e muito pouco o de solicitar feedback. Sua participação no grupo é atuante, dando informações, mas solicitando pouco. Diz às pessoas o que pensa delas, como se sente com relação a elas, sua posição no grupo, podendo criticar freqüentemente a todos, na convicção de que está sendo franco, honesto e construtivo.
Os outros podem percebê-lo como egocêntrico, com exagerada confiança nas próprias opiniões e valorizando sua autoridade, além de insensível ao feedback que lhe fornecem. Conseqüentemente, os outros tendem a sentir-se lesados em seus direitos, sem receber a devida consideração e podem desenvolver sentimentos de insegurança, hostilidade, ressentimento e defensividade com relação à pessoa.

Fig. 3.4. Estilo interpessoal III.
Este estilo tende a conservar e ampliar o eu cego, pois os outros passam a sonegar informações importantes ou dar feedback seletivo e, assim, concorrer para perpetuar comportamentos ineficazes, uma vez que o indivíduo não consegue beneficiar-se da função corretiva do feedback dos outros.
A menor solicitação e recebimento de feedback também têm razões psicologicamente válidas, correspondendo a reações intrapessoais a tensões variadas, tais como receio de conhecer sua imagem pelos outros, necessidade de não perder poder, autoritarismo etc. Mesmo exercendo função protetora, o estilo provoca reações disfuncionais na comunicação interpessoal e prejudica a produtividade pelos ressentimentos, hostilidades, e finalmente apatia decorrentes do processo, afastando a confiança mútua e a criatividade das situações de trabalho.
O usuário do estilo, entretanto, não se apercebe de seu papel como fator principal desse estado de coisas, pois a tendência é fortalecer e aumentar sua área cega.


Estilo interpessoal IV
Caracteriza-se pela utilização ampla e equilibrada de busca de feedback e de auto-exposição, permitindo franqueza e empatia pelas necessidades dos outros. O comportamento da pessoa, em sua maior parte, é claro e aberto para o grupo, provocando menos erros de interpretação por parte dos outros.
A área maior é a do eu aberto, ou de livre atividade, gerando expectativas de maior produtividade, através da redução de conjecturas sobre o que a pessoa está tentando fazer ou comunicar.
Inicialmente, este estilo pode conduzir à defensividade nos outros, por não estarem habituados a relações interpessoais autênticas, o que pode ser ameaçador ou inadequado até em algumas situações ou contextos. A médio e longo prazo, entretanto, a tendência é para estabelecer normas de franqueza recíproca, de tal modo que confiança mútua e criatividade possam ser desenvolvidas para um relacionamento significativo e eficaz.
Fig. 3.5. Estilo interpessoal IV.
O objetivo principal dos processos de busca de feedback e auto-exposição consiste em movimentar informações das áreas cega e secreta para a área livre, onde serão úteis a todos. Nestes processos, algumas informações podem mover-se da área desconhecida para a área livre. Uma pessoa, por exemplo, pode alcançar um insight quando percebe, subitamente, uma relação entre um evento aqui-e-agora no grupo e um acontecimento passado, resultante de feedback e reflexão conducente à abertura, freqüentemente observado em treinamento de sensibilidade e laboratórios de dinâmica interpessoal.


Fela Moscovici, Desenvolvimento Interpessoal,  LTC

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