Norman Geisler, Enciclopédia Apologética
Critica da Bíblia, Aula 9 TNT
Critica da Bíblia,
A palavra crítica, quando aplicada a Bíblia, significa apenas o exercício do
discernimento. Teólogos conservadores e não conservadores fazem dois tipos de
crítica bíblica:
1.
Baixa crítica,
que lida com o texto;
2.
Alta crítica,
que trata da fonte do texto.
A baixa
crítica tenta determinar o que o texto original dizia, e a outra pergunta quem
disse e quando, onde e porque foi escrito.
A maioria
das controvérsias relacionadas a crítica bíblica envolve a alta crítica. A alta
crítica pode ser dividida em negativa
(destrutiva) e positiva
(construtiva). A crítica negativa nega a autenticidade de grande parte do
registro bíblico. Essa abordagem em geral emprega uma pressuposição anti
sobrenatural. Além disso, a crítica negativa normalmente aborda a bíblia com
desconfiança equivalente a um preconceito do tipo “culpado até que se prove inocente”.
Crítica
negativa do NT. Métodos de crítica histórica, das fontes, da forma, da tradução
e da redação (e suas combinações) são as abordagens em que, historicamente, o
preconceito surge mais forte. Qualquer um deles, usado para promover uma agenda
cética, com pouca ou nenhuma consideração pela verdade, solapa a apologética
cristã.
Crítica histórica. A crítica histórica
é um termo amplo que abrange as técnicas de datar documentos e tradições, para
verificar eventos relatados nesses documentos, e usar os resultados na
historiografia para reconstruir e interpretar. O padre francês Richard Simon,
oratoriano, publicou uma série de livros, a partir de 1678, em que aplicou uma
abordagem crítica e racionalista para estudar a bíblia. Esse foi o nascimento
do estudo histórico crítico da Bíblia, mas só com Johann Gottfried Eichhorn
(1752-1827) e Johann David Michaelis (1717-1791) o moderno padrão histórico
crítico foi estabelecido. Eles foram influenciados pela pesquisa histórica
secular de Barthold Georg Niebuhr (1766-1841); Romische Geschichte (1811-1812).
Leopold von Ranke (1795-1886; Geshiche der romanischen umd germanischen Volker
von 1494-1535), e outros, que desenvolveram e refinaram as técnicas. Entre os
influenciados estava Johann Christian Konrad von Hofmann (1810-1877). Ele
combinou elementos de Friedrich Schelling (1775-1854), de Friedrich
Schleiermacher (1768-1834) e do luteranis-mo ortodoxo com categorias históricas
e métodos críticos para fazer uma síntese bíblico teológica. Esse modelo
enfatiza a “história supra-histórica” e “história santa” ou “história da
salvação” (Heilsgeschichte) – o tipo de história que não precisa ser
literalmente verdadeira. Suas idéias e termos influenciaram Karl Barth
(1886-1968). Rudolf Bultmann (1884-1976) e outros no século XX. No final do
século XIX, teólogos ortodoxos capazes desafiaram a “crítica destrutiva” e sua
teologia racionalista.
Entre os
teólogos conservadores estavam George Salmon (1819-1904), Theodor von Zahn
(1838-1933) e R.H. Lightfoot (1883-1953), que usavam métodos críticos como base
para uma crítica constritiva. Essa crítica constritiva se manifesta mais
abertamente quando considera assuntos como milagres, nascimento virginal de
Jesus e a ressurreição corporal de Cristo (v.RESSURREIÇÃO, EVIDÊNCIAS, DA). A
crítica histórica não é levada em conta hoje nos estudos bíblicos eruditos.
Vários trabalhos recentes na crítica histórica evidenciam a teologia
racionalista que ao mesmo tempo afirma apoiar a doutrina cristã tradicional.
Como resultado disso, surgiram desenvolvimentos como a crítica das fontes.
Crítica das fontes. A crítica das
fontes, também conhecida por crítica literária, tenta descobrir e definir
fontes literárias usadas pelos autores bíblicos. Ela procura descobrir fontes
literárias subjacentes, classificar tipos de literatura e responder a perguntas
relacionadas a autoria, unidade e datas dos materiais do AT e NT (Geisler,
p.436). Alguns críticos literários tendem a destruir os texto bíblico, rotular
certos livros como inautênticos e rejeitas a própria idéia de inspiração
verbal. Alguns teólogos levaram a rejeição de autoridade a tal ponto que
modificaram a idéia do cânon (por
exemplo, com relação a pseudonímia) para acomodar suas conclusões
(ibid.,p.436). No entanto esse empreendimento difícil mais importante pode ser
um auxílio valioso para a interpretação bíblica, já que diz respeito ao valor
histórico das obras bíblicas. Além disso, a crítica literária cuidadosa pode
impedir más interpretações históricas do texto bíblico.
Durante o
último século, a crítica das fontes do NT focalizou o denominado “problema
sinótico”, já que está relacionado as dificuldades que envolvem tentativas de
formular o esquema de dependência literária responsável por semelhanças e
diferenças entre os evangelhos sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas. Teorias
diversas costumam trabalhar com a idéia da fonte Q (do alemão Quelle, “Fonte”)
que não sobreviveu mas foi usada pelos evangelistas, que escreveram em
seqüências diversas, com o segundo dependendo do primeiro e o terceiro do
segundo. Essas teorias foram precursoras típicas da teoria das Duas Fontes
desenvolvida por B.H. Streeter (1874-1937) que afirmou a prioridade de Marcos e
posteriormente conquistou grande aceitação
entre os teólogos do NT. Os argumentos de Streeter foram questionados, e
sua tese, desafiada por outros. Eta Linnemann outrora aluna de Bultmann e
estudiosa da crítica, escreveu uma crítica severa da sua antiga posição em que
usa a análise de fontes para concluir que, na verdade, não existe nenhum
problema sinótico. Ela insiste em que cada autor dos evangelhos escreveu um
registro independente baseado na experiência pessoal e em informações
individuais. Ela escreveu:
Com o
passar do tempo, fico cada vez mais convencida de que a crítica do NT praticada
por pessoas comprometidas com a teologia histórico crítica não merece ser
chamada de ciência (Linnemann p.9).
E também;
“Os evangelhos não são obras literárias que redefinem com criatividade um
material já acabado, tal como Goethe reformulou o livro popular sobre Fausto
(ibid. p.104). Na verdade “ cada evangelho apresenta um testemunho completo e
único. Ele deve sua existência a testemunhas oculares diretas ou indiretas
(ibid, p.194).
Crítica da forma. A crítica da forma
estuda formas literárias tais como ensaios, poemas e mitos, já que obras
diferentes tem formas diferentes. Geralmente a forma de uma peça literária pode
revelar muito sobre a sua natureza, seu autor e seu contexto social.
Tecnicamente isso é chamado de “contexto da vida” (Sitz im Leben). A posição
liberal clássica é a teoria documentária ou teoria de análise das fontes do
Pentateuco estabelecida por Julius Wellhausen (1844-1918) e seus seguidores
(v.PENTATEUCO, AUTORIA MOSAICA DE). Eles tentaram mediar o tradicionalismo,
datando os livros do AT de forma menos sobrenatural ao aplicar a “teoria dos
documentos”. Esses documentos são identificados por javista (J), que data do
século IX a.C, eloísta (E), século 0 deuteronomista (D), por volta do tempo de
Josias (640-609 a.C.),
e sacerdotal (P, do alemão Priesterlich), talvez do século V a.C.. O conceito
evolucionário era tão atraente na crítica literária que a teoria das fontes
para a origem do Pentateuco começou a dominar toda opsição. Uma posição
mediadora de alguns aspectos da teoria foi expressa por C.E.A.Dillman
(1823-1894), Rudolph Kittel (1853-1929), e outros. A oposição a teoria
documental foi expressa por Franz Delitzch (1813- 1890), que rejeitou a
hipótese completamente no seu comentário sobre Gênesis, por Willian Henry Green
(1825- 1900), James Orr (1844-1913), A.H.Sayce (1845-1933), Wilhelm Moller,
Eduard Naville, Robert Dick Wilson (1856-1930) e outros (v.Harrison, p.239-41;
Archer; Pfeiffer). As vezes estudos de crítica e forma são prejudicados por
pressuposições doutrinárias, incluindo-se a idéia de que formas anteriores
devem ser curtas e formas posteriores, mais longas. Em geral, no entanto, a
crítica de forma beneficiou a interpretação bíblica. A crítica da forma foi
utilizada de maneira mais proveitosa no estudo de Salmos (Wenham, History and
de old Testament, p.40).
Essas
técnicas foram introduzidas no estudo dos evangelhos no NT como Formgeschichte
(“História da forma”) ou crítica da forma. Seguindo na tradição de Heinrich
Paulus e Wilhelm De Wette (1780-1849), entre outros teólogos em Tubingen
construíram sobre o fundamento da teoria da crítica das fontes. Eles defendiam
a prioridade de Marcos como primeiro evangelho e várias fontes escritas.
Wilhelm Wrede (1859- 1906) e outros críticos da forma do NT e os primeiros
registros escritos desses eventos. Eles tentaram classificar esse material em
“formas” de tradição oral para descobrir a situação histórica (Sitz im Leben)
na igreja primitiva que organizou essas formas. Geralmente supõe-se que essas
unidades de tradição refletem mais a vida e o ensinamento da igreja primitiva
que a vida e o ensinamento do Jesus histórico. As formas em que as unidades são
compostas são indicações do seu valor histórico relativo.
A pressuposição fundamental da crítica da
forma é exemplificada por Martin Dibelius (1883-1947) e Bultmann. Ao criar
novas palavras e ações de Jesus conforme a situação exigida, os evangelistas
teriam organizado as unidades ou tradição oral e criado contextos artificiais
para servir seus propósitos. Ao desafiar a autoria, data, estrutura e estilo de
outros livros do NT, os críticos destrutivos chegavam a conclusões semelhantes.
Para obter uma teologia fragmentada do NT, rejeitaram a autoria paulina de
todas as epístolas atribuídas e ele, exceto, Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios
e Gálatas (Hodges, p.339-48).
Críticos da
forma assumidos apóiam duas pressuposições básicas: 1) A comunidade cristã
primitiva tinha pouco ou nenhum interesse biográfico genuíno, nem integridade,
de modo que criou e transformou a tradição oral para suprir suas necessidades;
2) Os evangelistas foram editores compiladores de unidades individuais e
isoladas de tradição que eles organizaram e ordenaram sem consideração para com
a realidade histórica (v.Thomas e Gundry. A harmony of the gospels [p.281-2]
que identificam Dibelius, Bultmann, Burton S.Easton. R.H. Lighfoot, Vicent
Taylor e D.E.Nineham como os mais importantes críticos da forma do NT).
Crítica da tradição. A crítica da
tradição se preocupa principalmente com a história das tradições antes de serem
registradas de forma escrita. A história dos patriarcas, por exemplo,
provavelmente passaram de geração a geração oralmente até serem escritas como
narrativa contínua. Essas tradições orais podem ter sido mudadas pelo longo
processo de transmissão. É de grande interesse para o estudioso bíblico saber
que as mudanças foram feitas e como a tradição posterior, agora registrada numa
fonte literária, difere da versão oral anterior.
A crítica
da tradição é menos garantida ou segura que a crítica literária porque começa
onde a crítica literária para, com conclusões que também são inseguras. É
difícil confirmar a hipótese sobre o desenvolvimento de uma tradição oral
(Wenham, ibid., p.40-1). Ainda mais tênue é a “tradição litúrgica” enunciada
por S. Mowinckel e seus associados escandinavos, que argumentam que origens
literárias estavam relacionadas a rituais de santuários pré-exílicos e fenômenos
sociológicos. Derivada da abordagem litúrgica está a escola de “mito e ritual”
de S.H. Hooke, que argumenta que um conjunto distinto de rituais e mitos era
comum a todos os povos do antigo Oriente Médio, inclusive os hebreus. Ambas as
abordagens usam analogias do festival babilônico para apoiar suas variações dos
termos clássicos da crítica literária e da crítica da tradução (Harrison,
p.241).
A crítica
da forma está bem próxima da crítica tradição dos estudos do NT. Uma versão de
muitas das pressuposições a luz do texto NT foi feita por Oscar Cullmann em A Cristologia do
Novo testamento, eI. Howard Marshall, The Origen of New Testament christology
[As origens da cristologia do Novo Testamento]. E I belive in the historical
Jesus [eu creio no Jesus histórico]. Também veja as discussões em Brevard S. Childs,
Introduction to the old Testamwent as Scripture (Introdução ao Antigo
Testamento como escritura) e Introduction to the New Testament as canon [ Introdução ao novo testamento como
cânon] e Gerhard Hasel, teologia do Antigo testamento e teologia do Novo
testamento.
Crítica da redação. A crítica da
redação está mais próxima do texto do que a crítica da tradição. Como
resultado, ela é menos exposta a críticas de especulação subjetiva. A crítica
da redação (editorial) só pode ter certeza absoluta quando tiverem sido usadas
todas as fontes que estavam a disposição do redator (editor), já que a tarefa é
determinar como o redação copulou suas fontes, o que foi omitido, o que foi
acrescentado, e que predisposição específica estava envolvida no processo. Na
melhor das hipóteses o crítico só tem alguma das fontes a sua disposição, tais
como os Livros de Reis, que foram usados pelo (s) autor (es) de crônicas. Em
outros lugares, tanto no AT quanto no NT, as fontes precisam ser reconstituídas
a partir da própria obra editada. Assim, crítica da redação fica bem menos
confiável como recurso literário (Wenham, Gospel origiens, p.439).
Críticos da
redação tendem a favorecer a visão de que os livros da bíblia foram escritos
muito tempo depois, e por autores diferentes, do que o texto relata. Editores
teológicos mais recentes associaram nomes da história a suas obras pelo
prestígio e pela credibilidade que deles receberiam. Nos estudos do AT e NT
essa teoria surgiu da critica histórica, da crítica das fontes e da crítica da
forma. Como resultado, ela adota muitas pressuposições idênticas, incluindo a
hipótese documental no AT e a prioridade de Marcos no NT.
Avaliação. Como já observamos a alta
crítica pode ser útil, contanto que os críticos se contentes com análises
baseadas no que pode ser conhecido objetivamente ou razoavelmente teorizado. A
verdadeira crítica não começa seu trabalho com a intenção de subverter a
autoridade e o ensinamento das escrituras.
Comparação
dos tipos de críticas. Grande parte da crítica bíblica moderna, no entanto,
parte de pressuposições filosóficas não bíblicas expostas por Gerard Maier em The end of the historical chritical
method (O fim do método histórico crítico). Essas pressuposições incompatíveis
com a fé cristã incluem Deísmo, Materialismo, Ceticismo, Agnosticismo,
Idealismo Hegeliano e Existencialismo. A mais básica dentre elas é o
naturalismo dominante (anti-sobrenaturalismo) que é intuitivamente hostil a
qualquer documento que contenha histórias de milagres. Esse preconceito
naturalista separa a alta crítica negativa (destrutiva) a positiva
(construtiva).
Crítica positiva (construtiva)
|
Crítica negativa (destrutiva)
|
|
Base
|
Sobrenaturalista
|
Naturalista
|
Regra
|
O texto é “inocente até que prove ser culpado”
|
O texto é “culpado até que prove ser inocente”
|
Resultado
|
A Bíblia é completamente verdadeira
|
A Bíblia é parcialmente verdadeira
|
Autoridade Final
|
Palavra de Deus
|
Mente do homem
|
Papel da Razão
|
Descobrir a verdade
(racionalidade)
|
Determinar a verdade
(racionalismo)
|
Algumas
pressuposições negativas exigem exame minucioso, especialmente quando a sua
relação com o registro do evangelho. Essa análise é muito relevante para a
crítica das fontes, para crítica da forma e para crítica da redação, pois esses
métodos desafiam a genuinidade, a autenticidade e, conseqüentemente, a
autoridade divina da bíblia. Esse tipo de crítica bíblica e infundada.
Preconceito inculto. Impõem o próprio
preconceito anti-sobrenaturalista aos documentos. O criador da moderna crítica
negativa, Baruch Espinosa, por exemplo, declarou que Moisés não escreveu o
Pentateuco, nem Daniel o livro inteiro de Daniel, nenhum milagre registrado
realmente aconteceu. Segundo ele, milagres são científica e racionalmente
impossível.
Na esteira
de Espinosa, os críticos negativos concluíram que Isaias não escreveu o livro
inteiro de Isaias. Sua autoria teria envolvido previsões sobrenaturais
(inclusive saber o nome do Reis Sírio) mais de 100 anos antes (v.POFECIA COMO
PROVA DA BÍBLIA). Da mesma forma, os críticos negativos concluíram que Daniel
na poderia ser escrito até 165
a.C. Essa data recente o colocaria após o comprimento de
sua descrição detalhada dos governos e governantes mundiais até o Antíoco
Epifãnio IV (m. 163 a.C.).
Previsões sobrenaturais de eventos futuros nem foram consideradas. O mesmo
preconceito naturalista foi aplicado ao NT por David Strauss (1808-1874),
Albert Schweitzer (1875-1965) e Bultmann, com os mesmo resultados devastadores.
Os fundamentos
desse anti-sobrenaturalismo ruíram com evidências de que o universo começou com
big-bang (evolução cósmica). Até agnósticos como Robert Jastrow (Jastrow,
p.18), falam de forças “sobrenaturais” em ação (Kenny, p.66); basta, então,
comentar aqui que, com a extinção do anti-sobrenaturalismo moderno, não há base
filosófica para crítica destrutiva.
Teoria imprecisa de autoria. A crítica
negativa ignora ou minimiza o papel dos apóstolos e testemunhas que registraram
os eventos. Dos 4 autores do evangelho, Mateus, Marcos, João foram
definitivamente testemunhas oculares dos eventos que relataram. Lucas foi
contemporâneo deles e historiador cuidadoso (Lucas 1.1-4, v. AT). Na verdade,
todos os livros do NT foram escritos por contemporâneos ou testemunhas oculares
da vida de Cristo. Até críticos como o teólogo da “Morte de Deus” John A. T.
Robson, admitem que os evangelhos foram escritos entre os anos 40 e 65 (Robson,
p.352), durante a vida das testemunhas oculares. Mas se os documentos básicos
do NT foram compostos pelas testemunhas oculares, grande parte da crítica
destrutiva desaba. Ela pressupõe a passagem de muito tempo para que “mitos”
fossem desenvolvidos. Estudos revelam que são necessárias pelo menos duas
gerações para um mito ser criado (Sherwin-White, p.190).
O que Jesus
realmente disse? Supõe equivocadamente que os autores do NT não distinguiam suas próprias palavras das de
Jesus. O fato de uma distinção clara ser feita entre as palavras de Jesus e a
dos autores dos evangelhos é evidente pela facilidade com que se faz uma edição
do NT que destaca as palavras de Jesus. Na verdade, o apóstolo Paulo distingue
claramente suas palavras das de Jesus (v. At. 20.35; 1 Co 7.10, 12, 25).
João, o
apóstolo, também faz no apocalípse ( v.Ap. 1.8, 11, 17 b-20; 2.1s; 22.7, 12-16,
20-b). Á vista deste cuidado o crítico do NT torna-se culpado ao presumir, sem
evidência consubstanciadora, que o registro dos evangelhos não relata realmente
o que Jesus disse ou fez.
Mitos? A crítica destrutiva supõe
incorretamente que as histórias do NT são folclore ou mito. A uma grande
diferença entre os registro simples de milagres do NT e os mitos rebuscados que
surgiram durante os séculos II e III D.c.; como se vê ao comparar os registros.
Os autores do NT negam mitos explicitamente.
Pedro
declarou:
De fato,
não seguimos fábulas [nuthos] engenhosamente inventadas quando lhes falamos a
respeito do poder e da vinda do nosso Senhor Jesus Cristo; ao contrário, nós
fomos testemunhas da sua magestade (2 Pe. 1.16).
Paulo
também advertiu quanto a crenças e mitos (1 Tm. 1.4; 4.7; 2 Tm. 4.4; Tt. 1.14).
Um dos
argumentos mais impressionantes contra a teoria do mito foi oferecida por C.S.
Lewis:
Em primeiro
lugar, portanto, seja lá o que tais homens forem como críticos bíblicos, eu
desconfio deles como críticos. Parece-lhes faltar o bom senso literário;
parecem ser incapazes de perceber a própria qualidade dos textos que lêem [...]
Se ele me diz que algo num determinado evangelho é lenda ou romance, eu quero
saber quantas lendas ou romances ele já leu, qual bem treinado é seu paladar
para detectar esse sabor, quantos anos ele passou estudando aquele evangelho
[...] tenho lido poemas, romances, literatura visionária, lendas e mitos por
toda minha vida. Sei qual é sua forma e aparência. Sei que nenhum deles se
assemelha a isso [evangelho] (Lewis, p.154-5).
Criadores ou registradores? A auto
crítica infundada mina a integridade dos autores do NT ao afirmar que Jesus
jamais disse (ou fez) o que os evangelhos afirmam. Até alguns que se chamam
evangélicos chegaram ao ponto de afirmar que as coisas que “Jesus disse” ou
“Jesus fez” nem sempre deve significar que na história Jesus disse ou fez o que
se segue, mas as vezes pode significar que no registro inventado no mínimo
parcialmente pelo próprio Mateus, Jesus disse ou fez o seguinte (Gundry,
p.630).
Isso mina
claramente a confiança na veracidade dos evangelhos e a precisão dos eventos
que relato.
Nessa
posição crítica os autores do evangelho tornam-se criadores dos eventos e não
registradores.
É claro que
todo estudioso bíblico cuidadoso sabe que determinado evangelista nem sempre
usa as mesmas palavras que os demais usaram ao relatar que Jesus disse. No
entanto, eles sempre transmitem o mesmo significado. Selecionam, resumem e parafraseiam, mais não destorcem. Uma
comparação dos relatos nos evangelhos é uma grande evidência disso.
Não há base
para afirmação de um estudioso do NT de que Mateus criou a histórias dos magos
(Mt.2) com base na história dos pombinhos (Lc.2). Pois segundo Robert Gundry,
Mateus “transforma o sacrifício de 2 rolas ou 2 pombinhos’ na apresentação do
bebê Jesus no templo (Lc.2.24; cf.Lv. 12.6-8), no sacrifício dos bebês por
Herodes em Belém” (ibid., p.34-5). %Tal teoria não só degrada a integridade dos
autores dos evangelhos como também como também a autenticidade e a autoria do
registro evangélico. E isso também é ridículo.
Tampouco há
apoio para Paul K. Jewett, que chegou a extremo de afirmar (Jewett, p.1
4-5) que o que o apóstolo Paulo afirmou em 1 Coríntios 11.3
é errado. Se Paulo está errado, então a verdade consagrada de que “o que a
Bíblia diz, deus diz” não é verdadeira. Na verdade, se Jewett estiver certo,
mesmo quando alguém descobre que o autor das escrituras está afirmando, não
está mais perto de saber a verdade de Deus ( cf. Gn.3.1). Se “o que a Bíblia
diz, Deus Diz” (v. BÍBLIA, EVIDÊNCIAS DA) não é verdade, a autoridade, divina
de todas as Escrituras é completamente sem valor.
A parte da igreja primitiva na verdade.
O fato de a igreja primitiva não ter nenhum interesse biográfico é altamente
improvável. Os autores do NT, impressionados como estavam por crer que Jesus
era o Messias tão esperado, o Filho de Deus vivo (Mt.16.16-18), tinham grande
motivação para registrar precisamente o que ele realmente disse e fez.
Dizer o
oposto é contrariar as suas afirmações claras. João afirmou que “Jesus fez” as
coisas registradas em seu evangelho (Jo. 21.25). Em outra passagem João disse
que anunciava “o que ouvimos. O que vimos com nossos olhos, o que contemplamos,
e as nossas mãos apalparam...” (1 Jo. 1.1-2).
Lucas
manifesta claramente que havia um interesse biográfico intenso por parte das
primeiras comunidades cristãs ao escrever:
Muitos já
se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós,
conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram
testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo
cuidadosamente, desde o começo, e decido escrever-te um relato ordenado, ó
excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram
ensinadas (Lc. 1.11-4).
Afirmar,
como fazem os críticos, que os autores do NT não se interessavam em registrar a
verdadeira história é improvável.
A obra do Espírito Santo. Tais
pressuposições também ignoram ou negam o papel do Espírito Santo na ativação
das memórias das testemunhas oculares. Grande parte da rejeição do registro do
evangelho é baseada na pressuposição de que os autores não poderiam lembrar discursos,
detalhes e eventos vinte ou quarenta anos após os eventos. Pois Jesus morreu em
33, e os primeiros registros dos evangelhos provavelmente vieram (no mínimo)
entre 50 e 60 (Wenham, Gospel originus, p.112-34).
Mais uma
vez o crítico está rejeitando ou ignorando a afirmação clara das Escrituras,
Jesus prometeu aos seus discípulos: “Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o
Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo
o que eu lhes disse” (Jo. 14.26).
Então,
mesmo com a improvável pressuposição de que ninguém tivesse registrado o que
Jesus dissera durante sua vida, nem logo depois, os críticos nos querem fazer
acreditar que as testemunhas oculares cujas memórias foram ativadas
sobrenaturalmente pelo Espírito Santo não registraram precisamente o que Jesus
fez e disse. Crer que as testemunhas oculares do século I estavam certas e os
críticos do século XX estão errados, parece bem mais provável que o contrário.
Parâmetros para a crítica bíblica. É
claro que a erudição não precisa ser destrutiva, mas a mensagem bíblica deve
ser entendida em seu contexto teísta (sobrenatural) e em seu cenário histórico
e gramatical verdadeiro. Parâmetros positivos para a teologia evangélica são
oferecidos na Declaração de Chicago sobre a hermenêutica, produzida pelo
Concílio Internacional sobre a Inerrância Bíblica (v. Geisler, Summit II:
hermeneutics, p.10-3, e Radmacher e Preus, Hermeneutics inerraancy, and de
Bible, esp. P.881-914). Diz em parte o seguinte:
ArtigoXIII.AFIRMAMOS
que estar ciente das categorias literárias, formais e estilísticas das várias
partes das Escrituras é essencial para exegese adequada, e assim valorizarmos a
crítica do gênero como uma das muitas disciplinas de estudo bíblico. NEGAMOS
que categorias genéticas que neguem a historicidade possam ser apropriadamente
impostas as narrativas bíblicas que se apresentam como verdadeiras.
Artigo XIV.
AFIRMAMOS que o registro bíblico dos eventos, discursos e pronunciamentos,
apesar ele apresentado numa variedade de formas literárias apropriadas,
corresponde ao fato histórico. NEGAMOS que qualquer desses eventos, discursos
ou pronunciamentos registrados nas Escrituras tenha sido inventado pelos
autores bíblicos ou pelas traduções que incorporavam.
Artigo XV.
AFIRMAMOS a necessidade de interpretar a Bíblia de acordo com seu sentido
literal ou normal. O sentido literal é o sentido gramático histórico, isto é, o
sentido que o autor se expressou. A interpretação conforme o sentido literal
levará em conta a linguagem figurada e as formas literárias encontradas no
texto. NEGAMOS a legitimidade de qualquer abordagem das Escrituras que lhes
atribua significado que o sentido literal não apóia.
Artigo XVI.
AFIRMAMOS que as técnicas críticas legítimas devem ser usadas para determinar o
texto canônico e seu significado. NEGAMOS a legitimidade de permitir que
qualquer método de crítica bíblica questione a verdade ou integridade do
significado expresso pelo autor ou de qualquer outro ensinamento bíblico.
Redação
versus edição. Existem diferenças importantes entre a redação destrutiva e a
edição construtiva. Nenhum erudito bem informado nega que certa quantidade de
edição ocorreu durante os milhares de anos da história do texto bíblico. Essa
edição legítima, no entanto, deve ser distinta da redação ilegítima que os
críticos negativos advogam. Os críticos negativos jamais conseguiram apresentar
qualquer evidência convincente de que o tipo de redação em que acreditam jamais
tenha sido feita no contexto bíblico.
A tabela
seguinte compara as duas posições.
Edição
Legítima
|
Redação
Ilegítima
|
Mudança na forma
|
Mudanças no conteúdo
|
Mudança na escrita
|
Mudanças substantivas
|
Mudança no texto
|
Mudança na verdade
|
O modelo
redacionista do cânon confunde a atividade legítima dos escribas, envolvendo
forma gramatical, atualização de nomes e organização do material profético, com
mudanças ilegítimas de redação no próprio conteúdo da mensagem de um profeta.
Confunde a transmissão aceitável do escriba com adulteração inaceitável.
Confunde a discussão adequada sobre que texto é mais antigo com discussão
inadequada sobre quanto tempo depois os autores mudaram a verdade dos textos.
Não há evidências de que qualquer mudança redacional ilegítima significativa
tenha ocorrido desde que a Bíblia foi escrita. Pelo contrário, toda evidência
apóia uma transmissão cuidadosa em todos os assuntos importantes e nos mínimos
detalhes. Nenhuma diminuição da verdade básica ocorreu desde os escritos
originais até as Bíblias que temos hoje em nossas mãos.
Fontes
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