terça-feira, 1 de maio de 2012

Critica da Bíblia Aula 9 TNT


Norman Geisler, Enciclopédia Apologética
Critica da Bíblia, Aula 9 TNT

Critica da Bíblia, A palavra crítica, quando aplicada a Bíblia, significa apenas o exercício do discernimento. Teólogos conservadores e não conservadores fazem dois tipos de crítica bíblica:
1.      Baixa crítica, que lida com o texto;
2.      Alta crítica, que trata da fonte do texto.
            A baixa crítica tenta determinar o que o texto original dizia, e a outra pergunta quem disse e quando, onde e porque foi escrito.
            A maioria das controvérsias relacionadas a crítica bíblica envolve a alta crítica. A alta crítica pode ser dividida em negativa (destrutiva) e positiva (construtiva). A crítica negativa nega a autenticidade de grande parte do registro bíblico. Essa abordagem em geral emprega uma pressuposição anti sobrenatural. Além disso, a crítica negativa normalmente aborda a bíblia com desconfiança equivalente a um preconceito do tipo “culpado até que se prove inocente”.
            Crítica negativa do NT. Métodos de crítica histórica, das fontes, da forma, da tradução e da redação (e suas combinações) são as abordagens em que, historicamente, o preconceito surge mais forte. Qualquer um deles, usado para promover uma agenda cética, com pouca ou nenhuma consideração pela verdade, solapa a apologética cristã.
           
            Crítica histórica. A crítica histórica é um termo amplo que abrange as técnicas de datar documentos e tradições, para verificar eventos relatados nesses documentos, e usar os resultados na historiografia para reconstruir e interpretar. O padre francês Richard Simon, oratoriano, publicou uma série de livros, a partir de 1678, em que aplicou uma abordagem crítica e racionalista para estudar a bíblia. Esse foi o nascimento do estudo histórico crítico da Bíblia, mas só com Johann Gottfried Eichhorn (1752-1827) e Johann David Michaelis (1717-1791) o moderno padrão histórico crítico foi estabelecido. Eles foram influenciados pela pesquisa histórica secular de Barthold Georg Niebuhr (1766-1841); Romische Geschichte (1811-1812). Leopold von Ranke (1795-1886; Geshiche der romanischen umd germanischen Volker von 1494-1535), e outros, que desenvolveram e refinaram as técnicas. Entre os influenciados estava Johann Christian Konrad von Hofmann (1810-1877). Ele combinou elementos de Friedrich Schelling (1775-1854), de Friedrich Schleiermacher (1768-1834) e do luteranis-mo ortodoxo com categorias históricas e métodos críticos para fazer uma síntese bíblico teológica. Esse modelo enfatiza a “história supra-histórica” e “história santa” ou “história da salvação” (Heilsgeschichte) – o tipo de história que não precisa ser literalmente verdadeira. Suas idéias e termos influenciaram Karl Barth (1886-1968). Rudolf Bultmann (1884-1976) e outros no século XX. No final do século XIX, teólogos ortodoxos capazes desafiaram a “crítica destrutiva” e sua teologia racionalista.
            Entre os teólogos conservadores estavam George Salmon (1819-1904), Theodor von Zahn (1838-1933) e R.H. Lightfoot (1883-1953), que usavam métodos críticos como base para uma crítica constritiva. Essa crítica constritiva se manifesta mais abertamente quando considera assuntos como milagres, nascimento virginal de Jesus e a ressurreição corporal de Cristo (v.RESSURREIÇÃO, EVIDÊNCIAS, DA). A crítica histórica não é levada em conta hoje nos estudos bíblicos eruditos. Vários trabalhos recentes na crítica histórica evidenciam a teologia racionalista que ao mesmo tempo afirma apoiar a doutrina cristã tradicional. Como resultado disso, surgiram desenvolvimentos como a crítica das fontes.
           
            Crítica das fontes. A crítica das fontes, também conhecida por crítica literária, tenta descobrir e definir fontes literárias usadas pelos autores bíblicos. Ela procura descobrir fontes literárias subjacentes, classificar tipos de literatura e responder a perguntas relacionadas a autoria, unidade e datas dos materiais do AT e NT (Geisler, p.436). Alguns críticos literários tendem a destruir os texto bíblico, rotular certos livros como inautênticos e rejeitas a própria idéia de inspiração verbal. Alguns teólogos levaram a rejeição de autoridade a tal ponto que modificaram a idéia do cânon  (por exemplo, com relação a pseudonímia) para acomodar suas conclusões (ibid.,p.436). No entanto esse empreendimento difícil mais importante pode ser um auxílio valioso para a interpretação bíblica, já que diz respeito ao valor histórico das obras bíblicas. Além disso, a crítica literária cuidadosa pode impedir más interpretações históricas do texto bíblico.
            Durante o último século, a crítica das fontes do NT focalizou o denominado “problema sinótico”, já que está relacionado as dificuldades que envolvem tentativas de formular o esquema de dependência literária responsável por semelhanças e diferenças entre os evangelhos sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas. Teorias diversas costumam trabalhar com a idéia da fonte Q (do alemão Quelle, “Fonte”) que não sobreviveu mas foi usada pelos evangelistas, que escreveram em seqüências diversas, com o segundo dependendo do primeiro e o terceiro do segundo. Essas teorias foram precursoras típicas da teoria das Duas Fontes desenvolvida por B.H. Streeter (1874-1937) que afirmou a prioridade de Marcos e posteriormente conquistou grande aceitação  entre os teólogos do NT. Os argumentos de Streeter foram questionados, e sua tese, desafiada por outros. Eta Linnemann outrora aluna de Bultmann e estudiosa da crítica, escreveu uma crítica severa da sua antiga posição em que usa a análise de fontes para concluir que, na verdade, não existe nenhum problema sinótico. Ela insiste em que cada autor dos evangelhos escreveu um registro independente baseado na experiência pessoal e em informações individuais. Ela escreveu:
            Com o passar do tempo, fico cada vez mais convencida de que a crítica do NT praticada por pessoas comprometidas com a teologia histórico crítica não merece ser chamada de ciência (Linnemann p.9).
            E também; “Os evangelhos não são obras literárias que redefinem com criatividade um material já acabado, tal como Goethe reformulou o livro popular sobre Fausto (ibid. p.104). Na verdade “ cada evangelho apresenta um testemunho completo e único. Ele deve sua existência a testemunhas oculares diretas ou indiretas (ibid, p.194).
           
            Crítica da forma. A crítica da forma estuda formas literárias tais como ensaios, poemas e mitos, já que obras diferentes tem formas diferentes. Geralmente a forma de uma peça literária pode revelar muito sobre a sua natureza, seu autor e seu contexto social. Tecnicamente isso é chamado de “contexto da vida” (Sitz im Leben). A posição liberal clássica é a teoria documentária ou teoria de análise das fontes do Pentateuco estabelecida por Julius Wellhausen (1844-1918) e seus seguidores (v.PENTATEUCO, AUTORIA MOSAICA DE). Eles tentaram mediar o tradicionalismo, datando os livros do AT de forma menos sobrenatural ao aplicar a “teoria dos documentos”. Esses documentos são identificados por javista (J), que data do século IX a.C, eloísta (E), século 0 deuteronomista (D), por volta do tempo de Josias (640-609 a.C.), e sacerdotal (P, do alemão Priesterlich), talvez do século V a.C.. O conceito evolucionário era tão atraente na crítica literária que a teoria das fontes para a origem do Pentateuco começou a dominar toda opsição. Uma posição mediadora de alguns aspectos da teoria foi expressa por C.E.A.Dillman (1823-1894), Rudolph Kittel (1853-1929), e outros. A oposição a teoria documental foi expressa por Franz Delitzch (1813- 1890), que rejeitou a hipótese completamente no seu comentário sobre Gênesis, por Willian Henry Green (1825- 1900), James Orr (1844-1913), A.H.Sayce (1845-1933), Wilhelm Moller, Eduard Naville, Robert Dick Wilson (1856-1930) e outros (v.Harrison, p.239-41; Archer; Pfeiffer). As vezes estudos de crítica e forma são prejudicados por pressuposições doutrinárias, incluindo-se a idéia de que formas anteriores devem ser curtas e formas posteriores, mais longas. Em geral, no entanto, a crítica de forma beneficiou a interpretação bíblica. A crítica da forma foi utilizada de maneira mais proveitosa no estudo de Salmos (Wenham, History and de old Testament, p.40).
            Essas técnicas foram introduzidas no estudo dos evangelhos no NT como Formgeschichte (“História da forma”) ou crítica da forma. Seguindo na tradição de Heinrich Paulus e Wilhelm De Wette (1780-1849), entre outros teólogos em Tubingen construíram sobre o fundamento da teoria da crítica das fontes. Eles defendiam a prioridade de Marcos como primeiro evangelho e várias fontes escritas. Wilhelm Wrede (1859- 1906) e outros críticos da forma do NT e os primeiros registros escritos desses eventos. Eles tentaram classificar esse material em “formas” de tradição oral para descobrir a situação histórica (Sitz im Leben) na igreja primitiva que organizou essas formas. Geralmente supõe-se que essas unidades de tradição refletem mais a vida e o ensinamento da igreja primitiva que a vida e o ensinamento do Jesus histórico. As formas em que as unidades são compostas são indicações do seu valor histórico relativo.
              A pressuposição fundamental da crítica da forma é exemplificada por Martin Dibelius (1883-1947) e Bultmann. Ao criar novas palavras e ações de Jesus conforme a situação exigida, os evangelistas teriam organizado as unidades ou tradição oral e criado contextos artificiais para servir seus propósitos. Ao desafiar a autoria, data, estrutura e estilo de outros livros do NT, os críticos destrutivos chegavam a conclusões semelhantes. Para obter uma teologia fragmentada do NT, rejeitaram a autoria paulina de todas as epístolas atribuídas e ele, exceto, Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios e Gálatas (Hodges, p.339-48).
            Críticos da forma assumidos apóiam duas pressuposições básicas: 1) A comunidade cristã primitiva tinha pouco ou nenhum interesse biográfico genuíno, nem integridade, de modo que criou e transformou a tradição oral para suprir suas necessidades; 2) Os evangelistas foram editores compiladores de unidades individuais e isoladas de tradição que eles organizaram e ordenaram sem consideração para com a realidade histórica (v.Thomas e Gundry. A harmony of the gospels [p.281-2] que identificam Dibelius, Bultmann, Burton S.Easton. R.H. Lighfoot, Vicent Taylor e D.E.Nineham como os mais importantes críticos da forma do NT).
           
            Crítica da tradição. A crítica da tradição se preocupa principalmente com a história das tradições antes de serem registradas de forma escrita. A história dos patriarcas, por exemplo, provavelmente passaram de geração a geração oralmente até serem escritas como narrativa contínua. Essas tradições orais podem ter sido mudadas pelo longo processo de transmissão. É de grande interesse para o estudioso bíblico saber que as mudanças foram feitas e como a tradição posterior, agora registrada numa fonte literária, difere da versão oral anterior.
            A crítica da tradição é menos garantida ou segura que a crítica literária porque começa onde a crítica literária para, com conclusões que também são inseguras. É difícil confirmar a hipótese sobre o desenvolvimento de uma tradição oral (Wenham, ibid., p.40-1). Ainda mais tênue é a “tradição litúrgica” enunciada por S. Mowinckel e seus associados escandinavos, que argumentam que origens literárias estavam relacionadas a rituais de santuários pré-exílicos e fenômenos sociológicos. Derivada da abordagem litúrgica está a escola de “mito e ritual” de S.H. Hooke, que argumenta que um conjunto distinto de rituais e mitos era comum a todos os povos do antigo Oriente Médio, inclusive os hebreus. Ambas as abordagens usam analogias do festival babilônico para apoiar suas variações dos termos clássicos da crítica literária e da crítica da tradução (Harrison, p.241).
            A crítica da forma está bem próxima da crítica tradição dos estudos do NT. Uma versão de muitas das pressuposições a luz do texto NT foi feita por Oscar Cullmann em A Cristologia do Novo testamento, eI. Howard Marshall, The Origen of New Testament christology [As origens da cristologia do Novo Testamento]. E I belive in the historical Jesus [eu creio no Jesus histórico]. Também veja as discussões em Brevard S. Childs, Introduction to the old Testamwent as Scripture (Introdução ao Antigo Testamento como escritura) e Introduction to the New Testament  as canon [ Introdução ao novo testamento como cânon] e Gerhard Hasel, teologia do Antigo testamento e teologia do Novo testamento.
           
            Crítica da redação. A crítica da redação está mais próxima do texto do que a crítica da tradição. Como resultado, ela é menos exposta a críticas de especulação subjetiva. A crítica da redação (editorial) só pode ter certeza absoluta quando tiverem sido usadas todas as fontes que estavam a disposição do redator (editor), já que a tarefa é determinar como o redação copulou suas fontes, o que foi omitido, o que foi acrescentado, e que predisposição específica estava envolvida no processo. Na melhor das hipóteses o crítico só tem alguma das fontes a sua disposição, tais como os Livros de Reis, que foram usados pelo (s) autor (es) de crônicas. Em outros lugares, tanto no AT quanto no NT, as fontes precisam ser reconstituídas a partir da própria obra editada. Assim, crítica da redação fica bem menos confiável como recurso literário (Wenham, Gospel origiens, p.439).
            Críticos da redação tendem a favorecer a visão de que os livros da bíblia foram escritos muito tempo depois, e por autores diferentes, do que o texto relata. Editores teológicos mais recentes associaram nomes da história a suas obras pelo prestígio e pela credibilidade que deles receberiam. Nos estudos do AT e NT essa teoria surgiu da critica histórica, da crítica das fontes e da crítica da forma. Como resultado, ela adota muitas pressuposições idênticas, incluindo a hipótese documental no AT e a prioridade de Marcos no NT.
           
            Avaliação. Como já observamos a alta crítica pode ser útil, contanto que os críticos se contentes com análises baseadas no que pode ser conhecido objetivamente ou razoavelmente teorizado. A verdadeira crítica não começa seu trabalho com a intenção de subverter a autoridade e o ensinamento das escrituras.
            Comparação dos tipos de críticas. Grande parte da crítica bíblica moderna, no entanto, parte de pressuposições filosóficas não bíblicas expostas por Gerard  Maier em The end of the historical chritical method (O fim do método histórico crítico). Essas pressuposições incompatíveis com a fé cristã incluem Deísmo, Materialismo, Ceticismo, Agnosticismo, Idealismo Hegeliano e Existencialismo. A mais básica dentre elas é o naturalismo dominante (anti-sobrenaturalismo) que é intuitivamente hostil a qualquer documento que contenha histórias de milagres. Esse preconceito naturalista separa a alta crítica negativa (destrutiva) a positiva (construtiva).
                                   

Crítica positiva (construtiva)                                                                          
Crítica negativa (destrutiva)                                  
Base
Sobrenaturalista                                              
Naturalista
Regra
O texto é “inocente até que prove ser culpado”                                                                  
O texto é “culpado até que prove ser inocente”
Resultado
A Bíblia é completamente verdadeira                         
A Bíblia é parcialmente verdadeira
Autoridade Final
Palavra de Deus
Mente do homem
Papel da Razão
Descobrir a verdade
(racionalidade)                                                                                     
Determinar a verdade
(racionalismo)
            Algumas pressuposições negativas exigem exame minucioso, especialmente quando a sua relação com o registro do evangelho. Essa análise é muito relevante para a crítica das fontes, para crítica da forma e para crítica da redação, pois esses métodos desafiam a genuinidade, a autenticidade e, conseqüentemente, a autoridade divina da bíblia. Esse tipo de crítica bíblica e infundada.
            Preconceito inculto. Impõem o próprio preconceito anti-sobrenaturalista aos documentos. O criador da moderna crítica negativa, Baruch Espinosa, por exemplo, declarou que Moisés não escreveu o Pentateuco, nem Daniel o livro inteiro de Daniel, nenhum milagre registrado realmente aconteceu. Segundo ele, milagres são científica e racionalmente impossível.
            Na esteira de Espinosa, os críticos negativos concluíram que Isaias não escreveu o livro inteiro de Isaias. Sua autoria teria envolvido previsões sobrenaturais (inclusive saber o nome do Reis Sírio) mais de 100 anos antes (v.POFECIA COMO PROVA DA BÍBLIA). Da mesma forma, os críticos negativos concluíram que Daniel na poderia ser escrito até 165 a.C. Essa data recente o colocaria após o comprimento de sua descrição detalhada dos governos e governantes mundiais até o Antíoco Epifãnio IV (m. 163 a.C.). Previsões sobrenaturais de eventos futuros nem foram consideradas. O mesmo preconceito naturalista foi aplicado ao NT por David Strauss (1808-1874), Albert Schweitzer (1875-1965) e Bultmann, com os mesmo resultados devastadores.
            Os fundamentos desse anti-sobrenaturalismo ruíram com evidências de que o universo começou com big-bang (evolução cósmica). Até agnósticos como Robert Jastrow (Jastrow, p.18), falam de forças “sobrenaturais” em ação (Kenny, p.66); basta, então, comentar aqui que, com a extinção do anti-sobrenaturalismo moderno, não há base filosófica para crítica destrutiva.
            Teoria imprecisa de autoria. A crítica negativa ignora ou minimiza o papel dos apóstolos e testemunhas que registraram os eventos. Dos 4 autores do evangelho, Mateus, Marcos, João foram definitivamente testemunhas oculares dos eventos que relataram. Lucas foi contemporâneo deles e historiador cuidadoso (Lucas 1.1-4, v. AT). Na verdade, todos os livros do NT foram escritos por contemporâneos ou testemunhas oculares da vida de Cristo. Até críticos como o teólogo da “Morte de Deus” John A. T. Robson, admitem que os evangelhos foram escritos entre os anos 40 e 65 (Robson, p.352), durante a vida das testemunhas oculares. Mas se os documentos básicos do NT foram compostos pelas testemunhas oculares, grande parte da crítica destrutiva desaba. Ela pressupõe a passagem de muito tempo para que “mitos” fossem desenvolvidos. Estudos revelam que são necessárias pelo menos duas gerações para um mito ser criado (Sherwin-White, p.190).
            O que Jesus realmente disse? Supõe equivocadamente que os autores do NT  não distinguiam suas próprias palavras das de Jesus. O fato de uma distinção clara ser feita entre as palavras de Jesus e a dos autores dos evangelhos é evidente pela facilidade com que se faz uma edição do NT que destaca as palavras de Jesus. Na verdade, o apóstolo Paulo distingue claramente suas palavras das de Jesus (v. At. 20.35; 1 Co 7.10, 12, 25).
            João, o apóstolo, também faz no apocalípse ( v.Ap. 1.8, 11, 17 b-20; 2.1s; 22.7, 12-16, 20-b). Á vista deste cuidado o crítico do NT torna-se culpado ao presumir, sem evidência consubstanciadora, que o registro dos evangelhos não relata realmente o que Jesus disse ou fez.
           
            Mitos? A crítica destrutiva supõe incorretamente que as histórias do NT são folclore ou mito. A uma grande diferença entre os registro simples de milagres do NT e os mitos rebuscados que surgiram durante os séculos II e III D.c.; como se vê ao comparar os registros. Os autores do NT negam mitos explicitamente.
            Pedro declarou:

            De fato, não seguimos fábulas [nuthos] engenhosamente inventadas quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda do nosso Senhor Jesus Cristo; ao contrário, nós fomos testemunhas da sua magestade (2 Pe. 1.16).

            Paulo também advertiu quanto a crenças e mitos (1 Tm. 1.4; 4.7; 2 Tm. 4.4; Tt. 1.14).
            Um dos argumentos mais impressionantes contra a teoria do mito foi oferecida por C.S. Lewis:

            Em primeiro lugar, portanto, seja lá o que tais homens forem como críticos bíblicos, eu desconfio deles como críticos. Parece-lhes faltar o bom senso literário; parecem ser incapazes de perceber a própria qualidade dos textos que lêem [...] Se ele me diz que algo num determinado evangelho é lenda ou romance, eu quero saber quantas lendas ou romances ele já leu, qual bem treinado é seu paladar para detectar esse sabor, quantos anos ele passou estudando aquele evangelho [...] tenho lido poemas, romances, literatura visionária, lendas e mitos por toda minha vida. Sei qual é sua forma e aparência. Sei que nenhum deles se assemelha a isso [evangelho] (Lewis, p.154-5).
           

            Criadores ou registradores? A auto crítica infundada mina a integridade dos autores do NT ao afirmar que Jesus jamais disse (ou fez) o que os evangelhos afirmam. Até alguns que se chamam evangélicos chegaram ao ponto de afirmar que as coisas que “Jesus disse” ou “Jesus fez” nem sempre deve significar que na história Jesus disse ou fez o que se segue, mas as vezes pode significar que no registro inventado no mínimo parcialmente pelo próprio Mateus, Jesus disse ou fez o seguinte (Gundry, p.630).
            Isso mina claramente a confiança na veracidade dos evangelhos e a precisão dos eventos que relato.
            Nessa posição crítica os autores do evangelho tornam-se criadores dos eventos e não registradores.
            É claro que todo estudioso bíblico cuidadoso sabe que determinado evangelista nem sempre usa as mesmas palavras que os demais usaram ao relatar que Jesus disse. No entanto, eles sempre transmitem o mesmo significado. Selecionam, resumem e  parafraseiam, mais não destorcem. Uma comparação dos relatos nos evangelhos é uma grande evidência disso.
            Não há base para afirmação de um estudioso do NT de que Mateus criou a histórias dos magos (Mt.2) com base na história dos pombinhos (Lc.2). Pois segundo Robert Gundry, Mateus “transforma o sacrifício de 2 rolas ou 2 pombinhos’ na apresentação do bebê Jesus no templo (Lc.2.24; cf.Lv. 12.6-8), no sacrifício dos bebês por Herodes em Belém” (ibid., p.34-5). %Tal teoria não só degrada a integridade dos autores dos evangelhos como também como também a autenticidade e a autoria do registro evangélico. E isso também é ridículo.
            Tampouco há apoio para Paul K. Jewett, que chegou a extremo de afirmar (Jewett, p.1
4-5) que o que o apóstolo Paulo afirmou em 1 Coríntios 11.3 é errado. Se Paulo está errado, então a verdade consagrada de que “o que a Bíblia diz, deus diz” não é verdadeira. Na verdade, se Jewett estiver certo, mesmo quando alguém descobre que o autor das escrituras está afirmando, não está mais perto de saber a verdade de Deus ( cf. Gn.3.1). Se “o que a Bíblia diz, Deus Diz” (v. BÍBLIA, EVIDÊNCIAS DA) não é verdade, a autoridade, divina de todas as Escrituras é completamente sem valor.
           
            A parte da igreja primitiva na verdade. O fato de a igreja primitiva não ter nenhum interesse biográfico é altamente improvável. Os autores do NT, impressionados como estavam por crer que Jesus era o Messias tão esperado, o Filho de Deus vivo (Mt.16.16-18), tinham grande motivação para registrar precisamente o que ele realmente disse e fez.
            Dizer o oposto é contrariar as suas afirmações claras. João afirmou que “Jesus fez” as coisas registradas em seu evangelho (Jo. 21.25). Em outra passagem João disse que anunciava “o que ouvimos. O que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam...” (1 Jo. 1.1-2).
            Lucas manifesta claramente que havia um interesse biográfico intenso por parte das primeiras comunidades cristãs ao escrever:

            Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decido escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas (Lc. 1.11-4).

            Afirmar, como fazem os críticos, que os autores do NT não se interessavam em registrar a verdadeira história é improvável.
           
            A obra do Espírito Santo. Tais pressuposições também ignoram ou negam o papel do Espírito Santo na ativação das memórias das testemunhas oculares. Grande parte da rejeição do registro do evangelho é baseada na pressuposição de que os autores não poderiam lembrar discursos, detalhes e eventos vinte ou quarenta anos após os eventos. Pois Jesus morreu em 33, e os primeiros registros dos evangelhos provavelmente vieram (no mínimo) entre 50 e 60 (Wenham, Gospel originus, p.112-34).
            Mais uma vez o crítico está rejeitando ou ignorando a afirmação clara das Escrituras, Jesus prometeu aos seus discípulos: “Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse” (Jo. 14.26).
            Então, mesmo com a improvável pressuposição de que ninguém tivesse registrado o que Jesus dissera durante sua vida, nem logo depois, os críticos nos querem fazer acreditar que as testemunhas oculares cujas memórias foram ativadas sobrenaturalmente pelo Espírito Santo não registraram precisamente o que Jesus fez e disse. Crer que as testemunhas oculares do século I estavam certas e os críticos do século XX estão errados, parece bem mais provável que o contrário.
           
            Parâmetros para a crítica bíblica. É claro que a erudição não precisa ser destrutiva, mas a mensagem bíblica deve ser entendida em seu contexto teísta (sobrenatural) e em seu cenário histórico e gramatical verdadeiro. Parâmetros positivos para a teologia evangélica são oferecidos na Declaração de Chicago sobre a hermenêutica, produzida pelo Concílio Internacional sobre a Inerrância Bíblica (v. Geisler, Summit II: hermeneutics, p.10-3, e Radmacher e Preus, Hermeneutics inerraancy, and de Bible, esp. P.881-914). Diz em parte o seguinte:
            ArtigoXIII.AFIRMAMOS que estar ciente das categorias literárias, formais e estilísticas das várias partes das Escrituras é essencial para exegese adequada, e assim valorizarmos a crítica do gênero como uma das muitas disciplinas de estudo bíblico. NEGAMOS que categorias genéticas que neguem a historicidade possam ser apropriadamente impostas as narrativas bíblicas que se apresentam como verdadeiras.
            Artigo XIV. AFIRMAMOS que o registro bíblico dos eventos, discursos e pronunciamentos, apesar ele apresentado numa variedade de formas literárias apropriadas, corresponde ao fato histórico. NEGAMOS que qualquer desses eventos, discursos ou pronunciamentos registrados nas Escrituras tenha sido inventado pelos autores bíblicos ou pelas traduções que incorporavam.
            Artigo XV. AFIRMAMOS a necessidade de interpretar a Bíblia de acordo com seu sentido literal ou normal. O sentido literal é o sentido gramático histórico, isto é, o sentido que o autor se expressou. A interpretação conforme o sentido literal levará em conta a linguagem figurada e as formas literárias encontradas no texto. NEGAMOS a legitimidade de qualquer abordagem das Escrituras que lhes atribua significado que o sentido literal não apóia.
            Artigo XVI. AFIRMAMOS que as técnicas críticas legítimas devem ser usadas para determinar o texto canônico e seu significado. NEGAMOS a legitimidade de permitir que qualquer método de crítica bíblica questione a verdade ou integridade do significado expresso pelo autor ou de qualquer outro ensinamento bíblico.
            Redação versus edição. Existem diferenças importantes entre a redação destrutiva e a edição construtiva. Nenhum erudito bem informado nega que certa quantidade de edição ocorreu durante os milhares de anos da história do texto bíblico. Essa edição legítima, no entanto, deve ser distinta da redação ilegítima que os críticos negativos advogam. Os críticos negativos jamais conseguiram apresentar qualquer evidência convincente de que o tipo de redação em que acreditam jamais tenha sido feita no contexto bíblico.
            A tabela seguinte compara as duas posições.

Edição Legítima
Redação Ilegítima
Mudança na forma
Mudanças no conteúdo
Mudança na escrita
Mudanças substantivas
Mudança no texto
Mudança na verdade
           
            O modelo redacionista do cânon confunde a atividade legítima dos escribas, envolvendo forma gramatical, atualização de nomes e organização do material profético, com mudanças ilegítimas de redação no próprio conteúdo da mensagem de um profeta. Confunde a transmissão aceitável do escriba com adulteração inaceitável. Confunde a discussão adequada sobre que texto é mais antigo com discussão inadequada sobre quanto tempo depois os autores mudaram a verdade dos textos. Não há evidências de que qualquer mudança redacional ilegítima significativa tenha ocorrido desde que a Bíblia foi escrita. Pelo contrário, toda evidência apóia uma transmissão cuidadosa em todos os assuntos importantes e nos mínimos detalhes. Nenhuma diminuição da verdade básica ocorreu desde os escritos originais até as Bíblias que temos hoje em nossas mãos.

            Fontes

            O.Cullmann, The christology of the New Testament.
            W.R.Farmer, The Synoptic problem
            R.Gundry, Mathew: A commentary on his letery
                                             and theological art.
            G.Hasel, Teologia do Novo Testamento
            R.Jastrow, “A scientist caught between two faiths”,
                                em ct, 6 Aug. 1982
            P. Jewett, Man as male and female
            E. Krentz. The historical-critical method
            C.S. Lewis, Christian refletions
            E. Linnemann, Historical criticism of the Bible
            _ ,Is there a synopict problem?
            G.M.Maier, The end of the historical critical
                                method
            Marshall. I.H. The origins of New Instrument
                                    Christology
            A.Q. Morton, e J. McLeman, Christianity in the
                                                            computer age.
            E.D. Radmacher e R. D. Preus, Hermeneutics,
                                                               Inerrancy, and de Bible
            J. Robinson, Redating the New Testament
            E.P. Sanders, The Tendencies of the synoptic
                                   tradition
            A.N. Sherwin-White, Roman society and roman law
                                               In the New testament
            B.H. Streeter, The four gospels a study of origins
            R.L. Thomas, “An Investigationon the agreements
                                   Between Mathews and the Luke against Mark”,
                                   JETS 19, (1976)
            _, “The hermeneutics of evangelical
                redaction criticism”, JETS 29/4 (Dec.1986)
            J.W.Wenham, “Gospel origins”, TJ 7, (1978)
            _, “History and the Old Testament”, Bib.
                Sac., 124, 1967
           

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